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  As Malhadas.

As espigas de milho repousavam na eira havia alguns dias para que o sol completasse o trabalho de secagem do grão facilitando depois o trabalho de malhar e evitando que o grão se parta ao sujeitar-se às pancadas que irá receber.

 

Pelo calor do fim do Verão ou princípio de Outono chegam os proprietários para iniciar a malhada. Com o ancinho, conhecido como “engaço”, juntam-se as espigas num lugar que se possível forme uma ligeira cova, enquanto outras pessoas colocam em redor desse lugar giestas e sacos de serapilheira para impedir que os grãos de milho saltem para mais longe.

 

A eira, quer seja de pedra natural ou construída com lajes de granito foi previamente varrida com as habituais vassouras feitas de giesta.

 

 

Figura 262 – Engaços utilizados nas lides da eira.

 

malhadas
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Figura 263 – Espigas a secar na eira.

 

 

Depois de tudo preparado, começa então a malhada. Habitualmente e dependendo das quantidades de milho, os homens equipados com mangual ou pau semelhante ao da figura acima, iniciavam uma sequência de batimentos ritmados e coordenados com os outros malhadores de modo que quando um batia o outro levantava o objecto com que malhava. De vez em quando, o pau demorava um pouco mais a sair e lá ia fueirada que até os braços tremiam e as mãos ardiam.

 

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Figura 264 - Vassoura de giesta e o Mangual .

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Às primeiras pancadas, o milhão soltava-se do casulo e às vezes, caprichosamente, saltava para além dos limites que se tinham colocado e então mais uma vez a vassoura de giesta entrava em acção, varrendo os grãos para junto das espigas. De vez em quando interrompia-se a malhada para retirar o milho solto para os lados, ficando só as espigas sendo mais fácil de malhar.

 

No final restava o milho e os casulos, alguns ainda com grãos agarrados. Dada a pequena quantidade, já não era compensador continuar a malhar e como tal todos os casulos eras acabados de debulhar manualmente. Separados os casulos ficava então o milho envolvido em “pochas”, pequenas brácteas quase transparentes que se formam na espiga em volta do grão.

 

eira

 

Figura 265 – Imagem atual do que resta da antiga eira do monte do Concelho, uma eira comunitária de outros tempos. Por já não ser utilizada foi invadida pela vegetação.

 

 

Depois do trabalho da malhada estar completo, falta “erguer” o milho que é como quem diz separar do grão os restos de casulo e as “pochas” de modo a obter-se apenas o milho limpo que futuramente será transformado em farinha ou dado em grão aos “recos” e a animais de capoeira.

 

Erguer o milho só era possível se soprasse algum vento. Para isso enchia-se um crivo ou um outro recipiente com milho e levantava-se à altura da cabeça e abanava-se o crivo inclinado de modo a fazer cair gradualmente uma pequena quantidade de milho para que o vento leve as partículas mais leves para um lado e assim fazer a separação do lixo orgânico deixando o milho bem limpo e pronto a estender, isto é, espalhá-lo pela eira para mais uns dias de secagem até obter o máximo de rigidez e o mínimo de humidade de forma a facilitar a sua conservação e também a moagem.

 

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Claro que com o tempo incerto que fazia nesta época, de vez em quando era ver as pessoas a correr para as eiras para “apanhar” o milhão para que não se molhasse com a chuva.

 

 

Figura 266 – Método secular para erguer o milho.

 

 

Depois da secagem estar completa o milho era guardado em caixas de madeira e ia sendo utilizado à medida das necessidades.

 

 

Figura 267 – À esquerda imagem de um crivo.

 

malhada
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Figura 268 – Socos e cabaça dois artefactos de uso quase permanente.

 

 

Mas as caixas de madeira também tinhas que ser preparadas para receberem o grão e para isso eram bem lavadas, e depois de secas era colocado no seu interior um prato com uma mistura de enxofre e azeite, a cuja mistura se ateava fogo fechando a caixa para que o fumo resultante da lenta combustão do enxofre se entranhasse por todos os pontos da caixa, tentando eliminar possíveis infestações e minimizando assim o risco de o gorgulho tomar conta dos grãos de milho.

pão de milho

 

Grande parte desse milho levava-se a um moinho e fazia-se a troca por farinha de milho com a qual se confeccionavam as broas de milho. Atualmente ainda se faz esta troca mas em menor escala.

 

Figura 270 – Malhadeira ou debulhadora de milho.

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A tecnologia veio também intrometer-se nas malhadas e a partir do momento em que surgiram as primeiras malhadeiras mecânicas a troco de um trabalho muito menos cansativo e mais rápido, todos os reaproveitamentos ficaram inviabilizados assim com as cantigas e brincadeiras que atenuavam a dureza da jorna, começaram a esbater-se no lento mas constante passar dos anos diluindo-se nas páginas passado.

 

Figura 269 – Broas feitas de farinha de milho.

 

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