TOPONÍMIA
A Toponímia é o estudo linguístico e histórico dos topónimos ou seja dos nomes próprios de lugares, debruçando-se sobre a sua evolução e origem.
Há quem partilhe a ideia de que o nome de Constantim está ligado ao imperador Constantino e há também quem pense que o nome de Constantim tem ligações a Constâncio II (Flávio Júlio Constâncio) segundo filho de Constantino o Grande, como diz o Dr. Joaquim Ferreira de Barros no seu livro “Constantim de Panoias. Identificação de uma Vila”, na página 31. Neste livro acrescenta-se que Constâncio II travou uma batalha em Murça de Panoias contra Magnêncio no ano de 351 D.C..
No entanto convém lembrar que no capítulo relativo ao Templo de Panoias, se diz que, nas pesquisas sobre o império Romano, nem tudo o que se refere a Pannónia, poderá referir-se à nossa Panoias. Este é um desses casos.
Constâncio II, governou o império desde Bizâncio, que os romanos apelidaram de Constantinopla sem nunca ter pisado solo da Península Ibérica mas travou efetivamente essa batalha de Panónia (na Dácia), no ano de 351 contra Magnêncio que se havia declarado imperador em Ilíria (Murça), depois de matar o irmão de Constâncio II como se pode ler no texto da figura seguinte. Ilíria era uma província Romana nos Balcãs.
Figura 230 – Constâncio II de acordo com a Wikipédia.
Como podemos ver, os nomes de Murça e Panónia, são apenas uma enorme coincidência que não ajuda a levantar o véu toponímico de Constantim.
Reportando-nos agora ao blogue “Toponímia Galego-Portuguesa e Brasileira”, verificamos que os topónimos terminados em “-im” ou “-in”, indicam que o lugar era pertença de um senhor cujo nome aparece na palavra derivada fazendo-a terminar em “-ini” como se pode ver na figura que se segue.
Figura 231 – Fragmento do blogue Toponímia Galego-Portuguesa e Brasileira.
De acordo com o blogue mencionado, Constantim teria então primitivamente o nome Constantini. Sabemos no entanto que o imperador Constantino ou seu filho Constantino I, nunca pisaram estas paragens portanto a sua fundação por qualquer um deles está posta de parte.
Também não sabemos a data de fundação de Constantim, mas sabemos que a partir do ano 19 A.C. a Lusitânia estava completamente sob o domínio de Roma, no entanto nos anos em que Constantino foi imperador já a Lusitânia era dominada pelos Suevos e Visigodos, embora estes estivessem aliados aos romanos, garantindo assim o poder de Roma sobre a península Ibérica. Por isso mais difícil se torna pois crer que algum imperador tenha fundado ou dado nome a Constantim.
Sabemos também que o imperador Trajano, reinou desde o ano de 98 até ao ano 117 e que em Constantim foi encontrado um "marco miliário" memorizando Trajano. Será que a nossa comunidade já existia nessa altura ou existia apenas Panoias?
Apesar de tudo, e olhando o texto do achado arqueológico, que se encontra registado no CIL (CORPVS INSCRIPTIONVM LATINARVM), no Volume II, Pág. 639, de 1869, disponível para consulta e download no endereço http://cil.bbaw.de/cil_en/index_en.html e não sendo esse achado, quase com certeza um marco miliário, poderá no entanto significar que aí existia já algum tipo de aglomerado populacional, quer se trate de uma estela funerária (como alguns autores apontam), ou simplesmente de um marco identificativo de propriedade ou posse.
A ser um marco miliário, deveria conter na parte inferior das inscrições e em jeito de última linha, o nº da estrada em que se localizava e o nº da milha que o distanciava de Roma e portanto da milha “0”, salvo se o achado estiver incompleto.
No entanto as informações sobre o paradeiro do objeto continuam pouco concretas sem que as entidades com responsabilidades nesta matéria, a começar pela Junta de Freguesia de Constantim, se decidam a investigar a peça e a definir com seriedade o seu estado, o seu paradeiro e a função que exercia.
Outra dessas entidades é a Direção Geral do Património Cultural que no Portal do Arqueólogo, afirma que uma pedra encontrada na Mamôa, com cerca de um metro de altura foi adquirida pelo Dr. Joaquim de Barros Ferreira que a guarda na sua casa na Ranginha. Diz também que a pedra se encontra profusamente decorada em todos os seus lados não mencionando qualquer inscrição. Não disponibiliza no entanto qualquer imagem ou analise ao objeto, nem menciona qualquer diligência no sentido de identificar ou catalogar a peça o que me parece inaceitável.
O conteúdo da página http://arqueologia.igespar.pt/?sid=sitios.resultados&subsid=2152385 a ser correto, diz-nos que foram descobertos nas nossas terras dois objetos de interesse público, mas parece que ninguém toma medidas no sentido de serem identificados e devidamente analisados.
Neste contexto, a primeira entidade a ser responsabilizada por nada fazer, será a Junta de Freguesia de Constantim, que nunca tomou providências no sentido de pelo menos obter o registo e imagem da peça encontrada nos seus domínios de forma a possuir e disponibilizar o estudo do achado. Claro que nem sequer vou falar em tomar providências no sentido de trazer de volta essa mais valia pois nos quadros dos sucessivos mandatos do passado, quem teria vontade e competência para isso?
No site http://viasromanas.planetaclix.pt/ dedicado às vias romanas em Portugal, é referido que provavelmente em Constantim existiria uma “mansio” e “vicus”. A mansio era uma paragem oficial, para prestar descanso a soldados, a oficiais e a homens de negócios que viajavam pelo império e que era mantida pelo governo central enquanto a vicus designava no império romano uma povoação civil estabelecida para um determinado efeito e situado normalmente nas proximidades de uma unidade administrativa concreta que poderia eventualmente ser Panoias. A vicus não seguia o planeamento normal de uma cidade romana e não tinha edifícios administrativos visto não terem qualquer estatuto legal, sendo controlados directamente pelo exército romano. Inicialmente era composta por estruturas efémeras, acabando algumas por perdurar como centros regionais. Podem portanto estar aqui as fundações de Constantim. Mas, … qual seria o seu nome?
Figura 232 – Fragmento do site http://arqueologia.igespar.pt/?sid=sitios.resultados&subsid=2152385, mencionando um outro objeto descoberto bem como o seu paradeiro.
Julgo que nunca o chegaremos a saber, mas se tentarmos ligar o nome de Constantim a algum imperador Romano, então verificamos que existem 6 nomes possíveis. CONSTÂNCIO CLORO que governou nos anos de 305 e 306 e cujo nome era FLAVIVS VALERIVS CONSTANTIVS CHLORVS. Depois, entre os anos 307 a 337, reinou CONSTANTINO (GAIVS FLAVIVS VALERIVS CONSTANTINV). De 337 a 361 o império Romano era governado por três irmãos; o imperador CONSTANTINO II (FLAVIVS CLAVDIVS CONSTANTINV) governou a Gália e morreu no ano 340, o imperador CONSTÂNCIO II (FLAVIVS IVLIVS CONSTANTIVS) que governava a província de Panónia e o imperador CONSTANTE I (FLAVIVS IVLIVS CONSTANS), que morreu assassinado por Magnêncio no ano de 350 deixando assim todo o império sob o comando de CONSTÂNCIO II, que terminou o reinado no ano de 361. Depois no ano de 421 reinou o imperador CONSTÂNCIO III (FLAVIVS CONSTANTIVS).
Figura 233 – Fragmento do site http://viasromanas.planetaclix.pt/ .
Como não é provável que algum deles tenha passado por Constantim ou Panoias, há então a hipótese da vicus existente ter crescido e prosperado, iniciando assim as fundações de Constantim e dando-lhe o nome de um dos imperadores que provavelmente haviam tomado posse do cargo e a ser assim o nome mais lógico seria o de CONSTÂNCIO II, imperador de Panónia (na Dácia) após a reconquista a Magnêncio, ou por volta do ano de 353 quando Constâncio II reunificou o império.
Convém no entanto lembrar que provavelmente o aglomerado que poderá ter dado origem à nossa aldeia poderia eventualmente existir já há cerca de 200 anos, desde o tempo de Trajano (98-117).
Seja como for, não conheço registos onde conste algum antigo nome de Constantim se é que teve outro. Assim, o mais antigo registo a que tive acesso é a redacção do foral e aí já figura o nome de Constantim corretamente escrito embora com a grafia da época.
Note-se no entanto que, muitos outros nomes mantiveram nomes primitivos durante vários séculos depois do foral de Constantim, como Arroios (Roijs, Roios), Sabrosa (Souerosa) e Guiães (Guijães) o mesmo acontecendo com nomes de pessoas que se mantiveram nas versões antigas até aos séculos XVII e XVIII.
Por isso, esta pergunta terá que ser deixada no ar. Se Constantim teve outro nome porque se alterou tão rapidamente para o nome atual, se tantos outros nomes se mantiveram em versões antigas durante séculos?
Em jeito de comentário, se parece pouco plausível que o nome de Constantim, provenha de algum imperador Romano, a hipótese da origem do nome ser proveniente da constância na sua fé como outros acreditam, carece completamente de lógica e de fundamento, não possuindo esta associação qualquer sentido racional.
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