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  cAsa brasonada

Sempre que nos deparamos com um brasão, vem ao de cima a curiosidade de saber a que família pertenceria, que feitos lhe foram atribuídos para o merecer e que estatuto tinha na sociedade da época. No entanto não é tarefa fácil pesquisar no registo de brasões principalmente se o brasão em causa não estiver registado ou se for falso.

 

Um brasão de armas ou simplesmente, brasão, é um desenho especificamente criado, com a finalidade de identificar uma família, um clã, uma corporação, uma cidade, uma região ou uma nação, obedecendo às leis da heráldica. Em sentido restrito, o termo brasão refere-se apenas à descrição do desenho inserido no escudo de armas. No entanto, em sentido lato, pode designar-se por brasão a descrição do conjunto das armas, incluindo, além do escudo, os elementos exteriores (coronel, timbre, virol, paquifes, etc.). Por extensão, o termo brasão, passou a aplicar-se ao conjunto armorial completo.

 

Figura 203 – Elementos que compõem um brasão de armas.

Não se sabe com rigor quando esta prática teve início, mas os brasões não eram fornecidos ao acaso. Tiveram a sua origem em atos de coragem e bravura efetuados por grandes cavaleiros sendo esta uma maneira de os homenagear e às suas famílias. Com o passar do tempo passou a ser conferido a famílias nobres no intuito de identificar o estatuto social. Por isso apenas os heróis e a nobreza possuíam este ícone e o poderiam transmitir aos descendentes. A partir do Séc. XIX, o brasão foi perdendo importância renascendo no Séc. XX mas aplicado a municípios, corporações, estados e outras entidades coletivas.

 

A partir do Séc. XIX chamava-se brasão ao emblema distintivo, no entanto muitos desses emblemas apesar de serem denominados brasões, são falsos ou pseudo brasões por não obedecerem às regras da heráldica.

 

Na idade média a utilização de brasão carecia de aprovação e autorização, ficando registado em livros destinados a esse efeito.

 

Os brasões podem ser classificados de acordo com a forma do escudo, a organização do espaço do escudo e as partições que designam as diferentes formas de o dividir.

 

Quanto à forma, o escudo pode adquirir diversos aspectos não havendo um desenho padrão e variando conforme a origem, época e dependendo do gosto do desenhador, no entanto há formas tradicionalmente aceites pelos heraldistas e que não devem ser alteradas. Na atualidade os mais usuais são o escudo Francês e o Português.

 

As zonas fundamentais em que o escudo se pode dividir, são nove e ganham nomes diferentes conforme a posição no espaço do escudo. É nestas zonas que as figuras heráldicas deverão ser colocadas.

 

Depois, correspondendo aos golpes de espada que lhe podiam ser desferidos, assim se consideram as partições do escudo.

 

As principais são quatro, que combinadas permitem obter um elevado número de subpartições, bem como algumas peças de honra.

 

Dependendo dos feitos que o portador do escudo tinha feito, são gravadas em metal ou esmalte as peças honrosas, que podem ser de primeira ou segunda ordem.

 

Figura 204 – Classificação do escudo quanto à forma.

 

Figura 205 – Divisões do escudo.

 

 

Figura 206 – Organização do escudo.

 

 

Figura 207 – Algumas partições do escudo.

 

 

Figura 208 – Algumas peças honrosas gravadas em escudos.

 

 

A heráldica é uma ciência que não está ao alcance de todos e só os peritos podem fazer avaliações corretas e integrais do significado de todas as peças incluídas num brasão, por isso as palavras seguintes não deverão ser tomadas como comprovadas.

 

O brasão existente na casa da família Pinheiro em Constantim parece não estar registado em nenhum “Armorial”.

 

Também não contém peças honrosas, pelo que será apenas um distintivo de uma família, supostamente abastada, ou mandado lavrar por sua livre iniciativa, definindo-lhe um certo estatuto social.

 

 

Figura 209 – Brasão existente na fachada da casa da família Pinheiro.

 

O escudo tem a forma boleada do escudo Português ou peninsular, cortado em dois quarteis, sendo partido no primeiro.

 

No primeiro quartel, à dextra (direita) é decorado por águia de frente e em posição erguida e à sinistra (esquerda) exibe uma peça quadrangular, dividida em cinco quadrados de lado por cinco de alto, rodeados por dez letras “S”.

 

 

 

Figura 210 – Pormenor do 1º quartel do brasão.

 

 

Figura 211 – Pormenor do 1º quartel do brasão.

 

Os lados, destro e sinistro, são sempre considerados tendo em conta o portador do escudo, pelo que o lado destro (direito) é o lado esquerdo de quem olha o escudo.

 

No segundo quartel, exibe um leão rampante, armado e lampassado rodeado por nove flores-de-lis.

 

Em jeito de explicação sabemos que o leão significa “força, grandeza, coragem, nobreza de condição, domínio e proteção”. A flor-de-lis significa “generosidade, honra, realeza e seres divinos”. A águia heráldica representa “invencibilidade, bravura e coragem”. Não é possível sem conhecimentos profundos de heráldica, saber o significado para a figura de cinco quadrados por cinco, mas poderá supostamente, ser uma figura que designa propriedades de sua posse e a letra “S” repetida por dez vezes poderá significar grande sabedoria.

 

 

Figura 212 – Pormenor do elmo.

 

A coroa é formada por elos de corrente, atravessados pelo virol, que por sua vez se enrola no paquife. O elmo, colocado de frente e cerrado, adquire uma forma que não é prática comum e que de certa forma viola as regras da heráldica, pois de acordo com as informações recolhidas no site “Heráldica Portuguesa”, no endereço www.armorial.net, o elmo colocado de frente deve ser com a cor ouro e o seu uso compete apenas aos reis, príncipes de sangue real e duques soberanos. Por isso este brasão infringe as regras da heráldica e é por certo um falso brasão.

 

O timbre é a águia do 1º quartel, mas não tão levantada sendo o paquife constituído por elementos de folhagem alongados tal como os suportes. Não tem condecorações e como divisa ostenta o número 685 envolvido em folhagem entrelaçada e finalizado em baixo com enrolamento.

 

Provavelmente o número 685 referir-se-á ao ano de 1685, provável data importante para a família que o mandou elaborar.

 

Figura 213 – Excerto do texto retirado do site www.armorial.net.

 

Não é possível descrever os esmaltes do brasão mas é pena que se não consiga apurar a sua verdadeira origem de forma a sabermos com exactidão a quem pertenceu, de quem descendia e o que fez, pois se essa informação fosse determinada, era mais uma página da história da nossa terra que era descoberta. Os pormenores que a casa ainda revela, apontam no sentido de ter sido pertença de família abastada. A escadaria em pedra que ainda possui, parece induzir que outrora a casa não era apenas a que se observa agora, mas que seria maior, incluindo talvez a que lhe fica à direita.

 

 

 

Figura 214 – Outros pormenores que demonstram uma certa antiguidade da casa.

 

 

 

Também as palavras e símbolos gravados na pedra que suporta o nicho moldurado, que ainda possui o suporte para iluminação, não são fáceis de desvendar, de maneira que será um outro mistério em torno da casa da família Pinheiro.

 

Embora não brasonadas, existem outras casas com este tipo de pormenores, pertença por certo de famílias opulentas de outros tempos e que obviamente atestam a sua relativa antiguidade. Especial relevo para a casa da família Ferreira, que ostentando uma cruz resarcelada sobre plinto, ladeada por dois pináculos piramidais quadrangulares assentes também em plintos, indicava aos passantes a existência de uma capela dentro daquela propriedade.

 

 

 

Figura 215 – Pormenores de outras casas indicando uma certa antiguidade.

 

Mergulhar nos registos e ir recuando no tempo à medida que se íam descobrindo antigos proprietários deveria ser um trabalho deveras gratificante, porém árduo, moroso e desgastante, pela investigação que teria de fazer-se com as famílias, no sentido de se saber quem eram, o que tinham, de onde vinham e o que fizeram.

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