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  Festa de S. Brás.

S. Brás, natural de Sebaste, na Arménia, era um antigo bispo cristão que viveu no seculo IV e que é tido como santo protetor contra doenças e problemas da garganta uma vez que lhe é atribuído o milagre de ter curado uma criança que estava a morrer sufocada, retirando com o seu báculo uma espinha que lhe estava atravessada na garganta. Parece que daqui nasceu a tradição de chupar a gancha.

 

Como todas as tradições impressas nas páginas do passado, o tempo, a época e o contador acabam de uma forma ou outra por adulterar o seu teor de forma que quando os cronistas as registam, já estão muitas vezes bastante afastadas da sua origem.

 

Porém, parecem não restar dúvidas de que por várias razões históricas, as ganchas se encontram associadas a S. Brás, sendo no entanto uma incerteza, como sempre acontece aos factos e acontecimentos que se perdem no tempo e que o próprio tempo, as regiões e as gentes acabam por alterar de forma que nem a mais aprofundada pesquisa permite repor.

 

A gancha é um doce em forma de báculo, feito de açúcar caramelizado e que "apimentado" com um pouco de saudável malícia obtemos uma especialidade gastronómica única.

 

 

Figura 249 – As ganchas de S. Brás e um báculo religioso.

 

Mandava a tradição que quem fosse a esta romaria, deveria dar a volta ao cemitério a andar para trás e sem falar, pois podia entrar enguiço. Daqui o povo criou cantigas que se trauteavam a caminho das festividades.

 

1

Eu vou ao S. Brás,

De cu ó p’ra trás,

Buscar uma gancha

P’ró meu rapaz.

2

Eu vou ao S. Brás,

De cu para a frente,

Buscar uma gancha

P’ra minha gente.

3

Eu vou ao S. Brás,

De cu para o lado,

Buscar uma gancha

P’ró meu namorado.

 

Esta festa, comemorada a 03 de Fevereiro, está intimamente ligada à de Sta. Luzia que se realiza em Dezembro e dada a repressão existente noutros tempos relativamente ao sexo, o saber popular ligou habilmente a gancha ao órgão sexual masculino de forma que gracejando se diz que neste dia os rapazes devem oferecer a "gancha" às raparigas uma vez que em Dezembro as raparigas já tinham oferecido o "pito" aos rapazes.

 

Em Constantim também se ia assiduamente ao S. Brás pois o doce atraía as crianças, a malícia atraía a juventude e os mais velhos encontravam na gancha uma forma de adoçar os lábios dos netos. Depois era só dar asas à imaginação e gracejar em torno dos doces de S. Brás e de Sta. Luzia de forma que era frequente ouvir-se dizer:

 

-“Hoje tem que me dar a gancha pois em Dezembro também lhe dei o pito”.

-“Se comeu o pito que lhe dei, também quero a gancha dele”.

-“Já que aceitou o meu pito tenho que aceitar a gancha dele”.

 

A evolução dos tempos trouxe outras formas de abordar os assuntos que antes eram tabu, mas seja como for, importante é manter a tradição, continuar a ir ao S. Brás comprar a gancha e oferecê-la porque as raparigas continuam a gostar de a chupar. Os rapazes, como compraram e ofereceram a gancha, gostam obviamente que as raparigas a chupem, ficando naturalmente à espera que no próximo Dezembro, elas lhes voltem a dar o "pito".

 

Como infelizmente a tradição já não é o que era, também o ânimo pela chegada da Festa de S. Brás esmoreceu por completo e por certo, já poucas pessoas sabem quando se comemora essa festa, o que obviamente inviabiliza a compra e oferta da gancha.

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