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  SARCÓFAGO

No livro “Agiológio Lusitano-Volume II”, datado de 1657, nas páginas 595 e 596, o autor George Cardoso refere que o dia de S. Frutuoso se comemorava no dia 16 de Abril, embora nenhum autor se pronuncie sobre as razões que levaram à realização da festa em sua honra nesta data. Sabemos no entanto que embora S. Fructuoso tivesse falecida a 10 de Abril, o "Breviário Bracarense" menciona a data de 16 de Abril e será pois esta a razão que leva a comemorar o dia de S. Fructuoso nesta data.

 

O autor diz também que o Arcebispo D. Estevão Soares da Silva, entendendo que a sepultura térrea em que o corpo de S. Frutuoso tinha sido colocado embora a seu pedido, era demasiado humilde para a grandeza do homem que havia sido S. Frutuoso, mandou transladar o seu religioso corpo para um túmulo mais sublime, colocando-o em urna de pedra, na capela-mor do lado da epístola deixando apenas o crânio para consolação dos fiéis.

 

 

Figura 197 – Excerto do livro Agiológio Lusitano, Volume II, Página 595.

 

As mesmas palavras são ditas como já vimos, no livro datado de 1761, “Cuidados da Morte e Descuidos da Vida”, de Boaventura Maciel Aranha do qual se apresentam fragmentos do texto no capítulo dedicado a S. Frutuoso, acrescentando que aquando da transladação para a urna de pedra, o crânio foi mandado encastoar em prata.

 

De acordo com as palavras deste autor, pode depreender-se que na primitiva igreja, o altar-mor, seria um altar erigido por Frutuoso Gonçalves, Abade de Constantim em honra de S. Frutuoso, Arcebispo de Braga, tendo o nosso Santo manifestado vontade de ser sepultado em campa térrea, junto ao altar do seu santo predilecto. Parece que assim se terá feito.

 

 

A propósito da existência de uma pedra tumular desde tempos recuados no adro da igreja, J. A. Pires de Lima refere que o túmulo era de pedra inteira e com cavidade própria para receber um corpo, incluindo também a respetiva tampa. Pires de Lima lança portanto a logica pergunta, cuja resposta obviamente nunca se saberá ao certo:

 

-“Tratar-se-á da urna de pedra de que fala Boaventura Aranha”?

 

A pergunta pode fazer-se de maneira mais clara.

– Será o túmulo onde foi depositado em tempos o corpo de S. Frutuoso, por ordem do Arcebispo de Braga? Será que o túmulo ficou depois depositado no adro da igreja, quando as ossadas de S. Frutuoso foram transladadas para Braga?

 

Figura 198 – Excerto do livro Agiológio Lusitano, Volume II, Página 596.

 

Figura 199 – Excerto da pesquisa de J. A. Pires de Lima sobre a lenda de S. Frutuoso.

 

Atualmente o túmulo em pedra bem como a respetiva cobertura de forma triangular encontram-se no requalificado adro da igreja. A zona do adro onde se encontra, era antes uma casa destruída que se encostava à torre sineira e que apenas servia para reter lixo. Foi posteriormente adquirida pela igreja permitindo prolongar o adro que depois de ajardinado lhe dá um aspeto mais sóbrio e limpo.

 

Este túmulo esteve no entanto desaparecido durante décadas.

 

 

Figura 200 – Excerto do J.N. de 08-09-2006.

 

De acordo com o artigo do “Jornal de Notícias” do dia 08 de Setembro de 2006, na década de 50, parece que o pároco da altura vendeu o sarcófago à família Costa Lobo, residente no Estoril. Depois de vendido, terá ficado numa quinta em Constantim, propriedade da mesma família, para ser usado na matança do porco. Depois, foi transferido para a Quinta da Chamusca em S. João do Estoril e finalmente foi doado ao Jardim Zoológico onde foi colocado na jaula dos rinocerontes para que estes se pudessem coçar.

 

A forma como o sarcófago saiu de Constantim tem no entanto versão diferente nos artigos publicados no periódico Vila-Realense “Notícias de Vila Real” em 20 de Setembro de 2006 e em 04 de Novembro de 2011 já que nestes artigos se conta que o desaparecimento do túmulo começou com uma exposição de objetos antigos na Câmara de Vila Real.

 

Apesar de haver possibilidades de o túmulo em causa poder ter sido o túmulo onde foi depositado o corpo de S. Frutuoso, julgo também ser prematuro fazer essa afirmação de forma tão linear como no artigo do “Notícias de Vila Real” do dia 20 de Setembro de 2006.

 

Julgo que esta afirmação requer um longo e pormenorizado estudo, com um demorado e atento trabalho de pesquisa nos diversos arquivos civis e também religiosos, de forma a poder cruzar-se a informação recolhida. Na posse dos dados obtidos poderão tecer-se algumas considerações, dando preferência à informação recolhida em instâncias civis.

 

 

Figura 201 – Excerto do Notícias de Vila Real de 20-09-2006.

 

Se efetivamente se trata do túmulo de S. Frutuoso, onde estão os epitáfios que foram mandados lavrar, conforme consta nos livros dos quais se apresentaram excertos?

Porque não trata a Junta de Freguesia de tomar providências no sentido de fazer regressar as relíquias que nos pertencem?

Porque não estão na nossa igreja as ossadas de S. Frutuoso?

Porque está fora da freguesia o marco miliário do tempo de Trajano encontrado em Constantim?

Porque se ignora tanto o valor do nosso património deixando outras gentes regalar-se com aquilo que é nosso por direito?

 

Honra seja feita pois, a quem mesmo não sendo da terra, zelou mais por ela do que aqueles que por obrigação o deveriam fazer e como tal tenho que deixar palavras de agradecimento ao antigo pároco de Constantim, Padre Norberto Portelinha.

 

Urge alterar mentalidades de forma a que em vez de desdém, se possa oferecer ajuda para preservar aquilo que pertence à nossa história, ao nosso passado, tratando-se afinal de um pouco das nossas raízes e em suma, um pouco de todos nós.

 

 

 

Figura 202 – Pormenor do Sarcófago, suposta urna para onde terá sido transladado S. Frutuoso.

 

Importante na realidade, é o facto de este monumento se encontrar no lugar onde sempre pertenceu e espera-se que as entidades competentes tratem no futuro de preservar a peça histórica e providenciem no sentido de impedir que volte a desaparecer.

 

No entanto, era também importante fazer a devida pesquisa colocando depois a informação obtida junto da peça de forma a não ser apenas um sarcófago antropomórfico, mas sim um sarcófago com história que todos possam ler e partilhar.

 

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