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INCURSÕES BÁRBARAS EM TERRAS DE PANÓIAS

Por terra de Panoias, entendia-se grande parte do actual distrito de Vila Real, sendo Constantim um dos mais importantes centros da região.

 

Por volta do ano 30 A. C. a 14 A. C., sendo Augusto o imperador romano, toda a Península Ibérica, outrora Península Hispânica, era uma província imperial romana, chamando-se Portugal nessa altura Lusitânia e compreendia as terras a sul do Douro até ao Algarve incluindo a Estremadura Espanhola.

Durante centenas de anos, os Romanos governaram a Península, encontrando-se já nos nossos territórios, um povo de raça Indo-Germânica, os Celtas, que povoaram a Península nos 3º e 4º séculos A. C., vindo depois a ser absorvidos pelos Romanos.

 

Durante a sua permanência na Península, os Celtas deixaram-nos provas da sua presença, provas que ainda hoje é possível apreciar, apontando como exemplo mais fulgurante, o templo de Panoias (também chamado de Panoyas ou Panonias) e do qual falarei mais adiante.

 

Séculos depois, Suevos e Visigodos instalaram-se também na Península, tendo os Visigodos conquistado o território ocupado pelos Vândalos, que se refugiaram no norte de Africa. Por volta do ano 405 a 415 D.C., ocuparam as terras pertencentes à Lusitânia, desde Lisboa (nessa altura Olíssipo), até ao Rio Tejo e aí permaneceram por aproximadamente 3 séculos.

 

Figura 1 – Divisão da Península Hispânica sob o domínio Romano.

É mais que provável, que os Lusitanos que viviam nesta região, combateram inúmeras vezes contra essas verdadeiras pragas de invasores que assolaram as nossas terras. E quantos tombaram nesses sangrentos combates, não menos horrorosos que os atuais.

 

Os invasores continuavam as suas conquistas, encontrando sempre pelo caminho, as armas e os valorosos e fortes braços dos bravos da época. Como exemplo de terrível obstáculo aos invasores, temos Viriato, que morreu depois atraiçoado por um dos seus homens (Quinto Servílio), que o assassinou durante o sono, assim como Sertório, atraiçoado por Marco Perpenna.

 

Estas traições foram combinadas com os Romanos.

 

 

Figura 2 – Divisão da Península Hispânica por volta do ano 476.

 

Figura 3 – Divisão da Península Hispânica por volta do ano 570.

Viriato é bem o retrato dos Lusitanos.

 

Mas não só Viriato ia travando as investidas dos invasores, principalmente Romanos. Também “Apimano, Cesaron, Chancheno e Sertório” causavam terror nas hostes Romanas conforme diz o Padre JOÃO BAUTISTA DE CASTRO, no seu livro “MAPA DE PORTUGAL ANTIGO E MODERNO” de 1762, cuja página se apresenta a seguir.

 

 

Figura 4 – Página do livro “MAPA DE PORTUGAL ANTIGO E MODERNO” de 1762.

 

Figura 5 – Página do livro “MAPA DE PORTUGAL ANTIGO E MODERNO” de 1762.

Sertório era um desertor Romano que se aliou aos Lusitanos e que com a integração dos Celtiberos nas suas forças, foi convidado a chefiar os exércitos Lusos contra os Romanos.

 

Havia no entanto na altura, um vasto número de povos integrando a Lusitânia, cada um com os seus chefes e sujeitos às suas próprias leis. Entre outros destaco os Belitanos, os Turdulos e os Amaienses.

 

Já em Panoias, os habitantes de Trás os Montes eram os Astures e os Galaicos.

 

No entanto a parte mais montanhosa que atualmente pertence a Portugal, pertencia à Galiza, região dominada pelos Suevos enquanto as terras da Lusitânia eram agora dominadas pelos Visigodos.

 

O segredo para o difícil controlo das terras da Lusitânia por parte dos povos invasores, estava nos difíceis acessos por ser uma zona muito montanhosa, conforme nos refere Frei Bernardo de Brito, cronista geral e religioso da Ordem de S. Bernardo, no seu livro “GEOGRAPHIA ANTIGA DA LVSYTANIA”, impresso em Alcobaça por António Aluarez no ano de 1597 e do qual a Fig. 6, apresenta uma parte do texto, sendo o maciço da Serra da Estrela o coração da Lusitânia e o último a ser dominado.

 

 

Tal como anteriormente, Panoias continuou a ser muito importante. Com o poderio romano, esta região manteve a sua importância, a qual foi gradualmente aumentada com a construção de vários edifícios ao gosto romano, dos quais, ainda no Séc. XVII restavam vestígios, se bem que diminuídos por ter sido levada grande quantidade de pedra para a construção das muralhas de Vila Real.

 

Os Romanos desde sempre, para obterem o controlo efetivo das populações indígenas, que lhe garantisse o domínio completo da península, dominavam as vias de comunicação de mais fácil acesso ao mar.

 

Com Augusto, esse domínio verificava-se mais, nas vias de comunicação que ligavam os principais pontos militares.

 

Com Trajano, 98-117, em toda a parte se fomentava a riqueza e o bem-estar das populações e se melhoravam ou rasgavam novas vias de comunicação além de se construírem edifícios públicos com todas as finalidades.

 

 

 

Também Panoias beneficiou com estes melhoramentos levados a efeito nos tempos de Trajano e entre as obras realizadas, conta-se uma estrada que passava por Constantim, onde se encontrou um marco miliário, memorizando este imperador.

 

O marco miliário encontrado, tem a seguinte inscrição:

 

 

 

 

Presume-se que a estrada em causa, era a via que ligava Emerita a Aquae Flaviae (Mérida a Chaves) conforme se pode ler no livro “PORTVGALIA”, Nova serie, Volume XV de 1994 e cujas palavras se transcrevem na Figura 7.

 

 

 

 

No entanto, apesar de tantos autores falarem sobre o aparecimento do achado arqueológico em Constantim, (o suposto marco Miliário),  lamentavelmente nenhum se deu ao trabalho de averiguar onde se encontra com exactidão e de apresentar uma imagem desse objeto.

 

Uma outra via que servia a região, partia de Sabrosa, passaria por S. Martinho de Anta e após o lugar de S. Cibrão, descia o vale do Tanha, atravessando este rio na ponte “Pedrinha”, seguindo depois para a Ranginha e Constantim, lugar onde encruzilhava com a estrada principal.

 

Existem muitos documentos que indicam o alto grau de romanização que esta área sofreu, decaindo depois constantemente até sucumbir por completo.

 

Como o poderio Romano enfraquecia, Visigodos e Suevos aproveitaram para se instalar na província imperial Romana, onde permaneceram até à chegada dos Mouros tendo ocupado toda a Península Hispânica.

 

Desnecessário se torna dizer, que nesse tempo a terra de Panoias pertencia à Galiza (Gallaeci) e não à Lusitânia e falar nesta não é o mesmo que falar em Portugal.

 

Os Lusitanos eram originários das primeiras transmigrações e o impulso que os levou a repelir os Romanos e outros povos na fase conturbada que a Lusitânia viveu, foi o mesmo impulso que levou mais tarde os Portugueses a sacudir o jugo de Castela e por isso podemos considerar-nos os seus legítimos herdeiros.

 

Também sabemos que ao sangue Lusitano, veio misturar-se grande quantidade de sangue estranho, nomeadamente Celtiberos, que se uniram aos Lusitanos contra Roma, mas isso não retirou nada do seu caráter próprio, antes o apurou.

 

A Lusitânia renasceu depois com o nome de Portugal por entre as ruinas da monarquia Visigótica que os Árabes destruíram e renasceu com a mesma raça, patriotismo e nobreza que tivera outrora integrando no seu território a maior parte das terras da Lusitânia.

 

Os Lusitanos ou Portugueses foram e são uma raça forte pela pureza das suas crenças e as suas verdadeiras características fundamentais foram sempre Pátria e Liberdade, por isso demonstrou em todas as circunstâncias ameaçadoras da sua integridade uma irredutível energia, não depondo essa atitude intransigente enquanto o invasor audaz ou o impertinente vizinho não fossem expulsos ou vencidos.

 

 

 

Figura 6 – Trecho do livro “GEOGRAPHIA ANTIGA DA LVSYTANIA”.

 

 

 

Figura 7 – Excerto do livro “PORTVGALIA” mencionando e descrevendo a via Romana que passava em Constantim.

 

 

Figura 8 – Classificação do Miliário e tradução do seu texto, segundo o livro “As Pedras que Falam”, de José d’Encarnação.

 

Figura 9 – Excerto do livro “PORTVGALIA” descrevendo o provável traçado da via Romana que passava em Constantim.

 

Como diz J. E. dos Santos e Silva, no seu livro “Episódios e Tradições relativos à História Antiga da Lusitânia” de 1917, entre a subjugação da Lusitânia e o surgimento de Portugal, quase não existe literatura e os autores não a procuram preferindo começar no aparecimento de Afonso Henriques fundando a nacionalidade Portuguesa deixando a nossa nacionalidade como que, desmembrada do Reino da Lusitânia no entanto a fundação de Portugal foi a realização de legítimas aspirações de uma raça, a raça Lusitana agora Portuguesa.

 

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