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O TEMPLO DE PANOIAS

 

Não se pode falar em Constantim sem se falar em Panoias, nem vice-versa, uma vez que no passado ambas as comunidades estiveram intimamente ligadas, pois Constantim englobava no seu território todas as terras até Vale de Nogueiras.

 

Por esta razão vou falar também um pouco sobre Panoias e o seu templo, antes de entrar no tema principal.

 

Durante a sua permanência, os Celtas construíram no atual lugar de Panoias uma cidade, (ver texto da Fig. 10), que devido à invasão dos romanos ficou sob o domínio destes, que transformaram parte dela em templo ou santuário: O santuário rupestre em honra do deus Serápis.

 

 

 

Figura 10 – Página do livro “MAPA DE PORTUGAL ANTIGO E MODERNO” de 1762, descrevendo Panoias.

 

 

 

 

Do remoto passado de Panoias, fala o santuário dos Séc. 4º e 3º A. C., que se conserva ainda na povoação de Assento, freguesia de Vale de Nogueiras.

 

Mas falemos um pouco do deus em honra do qual foi erigido tão magnífico monumento.

 

Serápis era um deus da era Ptolemaica e Romana que resultou da combinação de Ápis divinizado com Osíris. Ápis era um boi sagrado que os Egípcios consideravam como a mais completa expressão da divindade sob a forma animal. Simbolizava a força vital e regeneradora da natureza.

Ao fim de um certo tempo, os sacerdotes afogavam-no no templo consagrado ao Sol e a sua múmia era venerada.

 

Osíris era também um deus Egípcio, protetor dos mortos e casado com Ísis. Ísis, deusa da medicina, do casamento, das culturas, etc., era ao mesmo tempo mulher e irmã de Osíris e personificava a primeira civilização Egípcia.

 

O facto de os Romanos adorarem um deus Egípcio, deve-se ao facto de estes identificarem Serápis com Plutão ou Júpiter, que eram respectivamente deus dos mortos e senhor de todos os deuses.

 

 

Figura 11 – Representação de Osíris e Ísis à esquerda e de Ápis à direita.

 

 

No templo Serápio de Panoias, segundo reza a tradição, os romanos sacrificavam as suas vítimas, talvez para os proteger nas batalhas, defender das doenças e guardar os mortos, uma vez que o seu deus era uma mistura de diversas divindades, que ao mesmo tempo protegiam os mortos (Osíris), eram deuses da medicina (Ísis), etc..

 

Panoias, cidade antiquíssima, pertencia à chancelaria de Braga e situa-se no território hoje ocupado pelas freguesias de Constantim e Vale de Nogueiras, a Su-sueste de Vila Real.

 

No lugar de Assento, cerca da célebre Constantim de Panoias, cujo nome nos surge na aurora da liberdade Portucalense ligada à revolta da nobreza e de Afonso Henriques, existem vestígios de fortes muralhas e de grandes edifícios, bem como o variado e abundante espólio arqueológico que constituem o motivo de localização e identificação, sendo notáveis e sem dúvida as mais importantes que existem desta povoação, uma espécie de tanques de diferentes tamanhos e diversas formas, que se vêem abertos em alguns rochedos graníticos, com intervenção evidentemente romana, tendo em vista as inscrições nela gravadas.

 

A Câmara de Vila Real e o pároco de Vale de Nogueiras enviaram à Academia Real, por ordem de D. João V, um relatório de todos estes monumentos.

 

As inscrições já muito deterioradas pelo tempo, encontram-se esculpidas na rocha parecendo querer dizer-nos:

-“AQUI SE SACRIFICA O QUE CAI DA RÊZ SACRIFICADA E AS SUAS VÍSCERAS SE QUEIMAM NOS QUADRADOS FRONTEIROS. LAGO SAGRADO DE TODA A SORTE HÁ-DE PERMANECER”.

 

Uma segunda inscrição diz:

-“CNEIO CAIO CALPURNIO RUFINO, DEDICOU ESTE TEMPLO AOS DEUSES SEVEROS QUE HABITAM ESTE TEMPLO”.

 

 

Figura 12 – Planta do templo de Panoias publicada no Diário da República nº 28, 2ª serie de 8 de Fevereiro de 2012, tornando-a zona especial de proteção.

 

Numa terceira pode ler-se:

 

-“CNEIO CAIO CALPURNIO RUFINO, VARÃO CONSULAR, DEDICOU ESTE LAGO ETERNO COM ESTE TEMPLO, EM QUE SE QUEIMAM AS VÍTIMAS AOS DEUSES E A TODAS AS DIVINDADES”.

 

E noutra das inscrições gravadas no duro granito, pode ver-se escrito:

 

-“CNEIO CAIO CALPURNIO RUFINO, VARÃO CONSULAR, DEDICOU ESTE TEMPLO E ESTA OBRA AOS DEUSES. ESTE É O LAGO ETERNO ONDE POR VOTO O SANGUE SE MISTURA”.

 

Além destas, havia ainda outras inscrições, mas que entretanto desapareceram fruto da ignorância e da falta de escrúpulos de alguém.

 

Segundo a teogonia dos romanos, havia diversas divindades, morando umas na terra, outras nos céus e outras no inferno. Os templos e as aras em lugares profundos ou em covas, eram templos dedicados aos deuses infernais. Pelas palavras gravadas nas fragas de Panoias e que eram servidas por escadas, eram também templos dedicados pelos romanos às mesmas divindades, normalmente adornados com estátuas dedicadas a Serápis, que foram mais tarde destruídas.

 

 

Figura 13 – Distribuição dos santuários, onde se adoravam deuses Greco-Orientais.

 

Com Teodósio como imperador romano, o culto ao deus Serápis terminou, ditando o novo imperador uma lei que condenava à pena capital, seguida de confiscação de bens, todos quantos adorassem deuses pagãos e lhes sacrificassem vítimas. Teodósio batizou-se no ano de 380 e obrigou os seus súbditos a seguir a religião pregada por S. Pedro.

 

Daqui em diante deixariam de sacrificar-se vítimas a Serápis nos fragões de Panoias, se é que esse culto já não era findo.

 

Antes do Pe. Jerónimo Contador D’Argote, em Memórias do Arcebispado de Braga, nenhum escritor tratou desenvolvidamente desta cidade Celta, limitando-se apenas a fazer menção dela, no entanto, já desde o tempo dos visigodos que esta cidade tinha importância, sendo inclusivamente um centro de cunhagem de moeda, cujos espécimenes são muito raros.

 

 

 

Figura 14 – Documento atestando a existência de moedas cunhadas em Panoias.

 

 

Figura 15 – Locais da região Duriense onde foi cunhada moeda.

 

Desta cidade Celta, vêem-se ainda vários restos de paredes e muralhas de grande robustez e que pertenceram a grandes edifícios.

 

Segundo a tradição, grande parte desses valorosos materiais de construção com os quais se fizeram tão maravilhosas obras, foram conduzidas a Vila Real para a construção das muralhas aquando da sua fundação e para o provar, apareciam a pouca profundidade, pedras lavradas e esculpidas em granito finíssimo, qualidade que não existe nesta zona.

 

Na residência do pároco e em outras casas espalhadas por Assento e Vale de Nogueiras, também se vêem estes preciosos restos a servir de alvenaria.

 

Mesmo depois das invasões dos bárbaros, Panoias continuou a ser importante, porque em 1569, formava uma das 27 igrejas principais do arcebispado de Braga.

 

Num opúsculo anónimo, impresso em 1836, lê-se uma descrição pormenorizada da região de Panoias no que diz respeito à sua paisagem, estrutura do terreno e às culturas principais, não esquecendo a sua fauna e flora.

 

Panoias foi declarado Monumento Nacional pelo Decreto-Lei nº 136 de 23 de Junho de 1910, cuja cópia se pode obter no endereço:

http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/70273/

 

 

Figura 16 – Conjunto epigráfico de Panoias, segundo esboço de Rodrigues de Aguiar (Rodríguez Colmenero 2000, 43).

 

 

 

Figura 17 – Conjunto epigráfico de Panoias na atualidade.

 

 

Atrás se disse que a Câmara de Vila Real e o pároco de Vale de Nogueiras enviaram à Academia Real, uma relação dos monumentos existentes em Panoias. Pois bem, o documento enviado, diz assim conforme transcreve D. Jerónimo Contador D’Argote:

 

534) Entre o lugar do Assento, desta igreja de S. Pedro de Valdenogueiras e a Honra de Galegos, fica um monte pouco levantado, que das costas da igreja, indo para o Nascente, fica em distancia de tiro de espingarda, em o qual há muitas fragas, com suas caixas abertas ao pico de várias fórmas, com tradiçaõ de que foraõ obra dos Romanos e em humas dellas se achaõ alguns letreiros, porém diminutos em algumas letras, por as ter consumido o tempo; mas as que se acharaõ, vaõ copiadas assim, e da maneira que se acharaõ gravadas, e onde faltas, em branco; e toda a mais obra que se acha feita, vay debuxada verdadeiramente, divididas pelo A, B, C, com a estampa do primeiro fragão, que se segue, por ser mayor, mais levantado, e mais visinho ao sítio da igreja, cujas fórmas vaõ em todas as estampas explicadas por números.

535) No dito monte está um grande fragaõ de pedra mármore, que tem de altura fóra da terra tres varas, cada uma de cinco palmos ordinarios, tem de Nascente a Poente seis varas, e de Norte a Sul dezoito.

536) Tem este fragaõ da parte do Norte huma escada de nove degraos abertos ao pico, pelo mesmo fragaõ acima, a qual vay apontada na estampa, com o núm. 1. pela qual se sobe ao alto, onde he plaino, e lavrado ao pico.

537) Sobida a escada, no plano do dito fragaõ, à maõ direita, que fica para a parte do Poente, está huma caixa figurada na estampa, e apontada com o num. 2. profundada ao pico na mesma fraga, em altura de tres palmos, ficando de vaõ nove palmos e meyo em comprimento, e de largo tres, e pela circunferencia da boca tem seus rebates de largura de meyo palmo, que he o que representa o perfil branco, que vay pelo âmbito, que parece ser encaixe, em que assentava alguma tapadoura com que se tapava, e tem seu cordaõ mais levantado na superfície, como para reparo de águas, que correndo pelo lavrado da pedra, não podessem entrar dentro, cuja cautela, e rebates se obrou não só neste fragaõ, mas em todos os mais, que ao diante vaõ copiados em outras fragas.

538) Depois dessta caixa, em distancia de dous palmos, está outra, que vay notada na estampa com o num.3. da mesma grandeza, e altura.

539) Em semelhante distancia, caminhando em cima do mesmo fragaõ para o Sul, se fez huma rebaixa ao pico por todo o fragaõ, que tem hum palmo de alto, e de largo quatro pela circunferência, e por esta rebaixa vem descendo alguns degraos de hum palmo de alto cada hum, cuja rebaixa vay apontada com o num.4. e fica sendo quadrada por toda.

540) Dentro desta rebaixa quadrada está outra arca, que vay apontada com o num.5. que he profunda na mesma fraga três palmos e meyo, e tem de comprido onze palmos, e de largo quatro e meyo, tudo de vaõ pela parte de dentro, e no fundo della, em que vay o num.6. está hum buraco redondo, que tem de alto meyo palmo, e outro tanto de largo.

541) Segue-se logo outra caixa do num.7. que tem de profundo tres palmos, e de vaõ em comprimento treze, e em largura tres, e tem no fundo outro buraco redondo, que vay apontado com o numero 8.

542) No fundo do quadrado, e rebaixado está envasada outra caixa, que vay apontada com o num.9. que tem de profundo tres palmos, de comprimento dez, e de largura tres, no fundo da qual está outra caixa pequena, que vay apontada com o num.10. que tem de profundo hum palmo, em comprimento dous, e de largo hum.

 

 

 

Figura 18 – Desenho enviado a representar uma das fragas de Panoias                       e à qual foi atribuída a letra A.

 

 

543) Pouco distante de cima da escada está huma caixasinha de pouca altura, que tem dous palmos em quadrado, e vay apontada com o num.11.

544) No lado deste fragaõ, que fica para o Nascente, está hum tarjaõ, que mostra ser lavrado ao pico, e escoda, que tem comprimento dez palmos, e em largura quatro, e mostra fora feito para nelle se abrir letreiro, que naõ chegou a fazerse, o qual vai notado com o num.12.

545) E todas as caixas saõ por dentro também poidas, como se foraõ de madeira.

 

 

 

Figura 19 – Fotografia da fraga de Panoias à qual foi atribuída a letra A.

 

 

 

Figura 21 – Fotografia da fraga de Panoias à qual foi atribuída a letra A, com os degraus de acesso ao topo.

 

 

 

Figura 20– Pormenor da fraga de Panoias à qual foi atribuída a letra A.

 

 

 

Figura 22 – Panorama geral das fragas de Panoias, tirado do topo da fraga letra A.

 

 

546) Depois do fragaõ da letra A, caminhando para o Sul em distancia de sessenta varas, está outra fraga de pedra mármore, quasi igual com a terra, e nella está esculpida a caixa da estampa da letra B, apontado com o numero 1. a qual tem de profundo tres palmos, e de vaõ em comprimento quatro, e de largo tres; tem abertos huns buracos, que se apontaõ com os números 2. e 3. Cada hum de meyo palmo, abertos pela parte de dentro, que representaõ serem para encaixes de dobradiças, e fechos, e em distancia de dous palmos lhe fica aberto hum buraco redondo, de hum palmo de vaõ, que vay apontado com o numero 4. Esta fraga o mais branco della no alto em que está a caixa, he lavrada ao pico.

 

 

Figura 23 – Desenho enviado no relatório a representar a fraga B.

 

547) Abaixo da fraga da letra B, caminhando para o Sul, em distancia de doze varas, está hum fragaõ, que vay apontado com a letra C, também de pedra marmore, e está levantado da terra tres palmos, e tem de Nascente a Poente duas varas e meya, e de Norte a Sul tres e meya.

548) Tem virada para o Nascente huma escada que vay notada com o numero 1. a que se segue o numero 2. que he hum pedaço de fraga lavrada, a que se segue outra escadinha, cujos degraos levaõ o numero 3. e no ultimo deles os pontos, que nelle vaõ, saõ buracos, como em que esteve grade de ferro; o numero 4. he hum nicho como de Idolo; e o numero 5. he rasgo como de corrediça.

549) No plano da fraga, que está lavrada ao pico, estaõ duas caixas, a primeira do numero 6. tem quatro palmos de comprido, hum e meyo de largo, e outro tanto de profundo, e a esta se segue outra do numero 7. que tem de comprido quatro palmos e meyo, de largo tres, e de profundo outros tres, e ambas com seus buracos para dobradiças, e fechos, assim como ellas se achaõ copiadas.

550) Nos lados deste plano, em que estaõ as caixas, tem as faixas do numero 8. rebaixadas hum palmo, e em largura tres; e aonde vay o numero 9. saõ degraos, que daquela parte descem, e sobem para as faixas do numero 8. cuja descida he para o Sul; e os lados do numero 8. parece seriaõ alicercer de edifício, mas tudo bem lavrado ao pico no mesmo fragaõ.

 

551) No alto do mesmo fragaõ, em distancia de tres palmos para o Sul, está hum buraco redondo de meyo palmo de vaõ, assim de altura, como de largo, que vay notado com o numero 10.

552) No primeiro plano desta fraga, ao lado de cima da primeira escada, tres palmos desviado della, está huma caixa, que vay notada com o numero 11. que tem de comprido palmo e meyo, e de largo hum palmo, e de profundo palmo e meyo.

553) Nos lados da primeira escada estaõ dous tarjões, cujas figuras vaõ notadas com o numero 12. e ambas bem lavradas à escoda, que mostraõ ser feitos para nelles se abrirem letreiros, que se naõ fizeraõ.

 

 

 

Figura 24 – Vista aérea da fraga classificada com a letra C.

 

 

 

Figura 25 – Fotografia da fraga classificada com a letra C.

 

 

Figura 26 – Desenho anexado ao relatório representando o fragão classificado com a letra C.

 

 

Figura 27 – Outro pormenor da mesma fraga (C).

 

554) Mais abaixo para o Nascente, em distancia de treze varas, está hum fragaõ, que tem de comprido dez varas, e da parte do Ocidente naõ tem mais altura, que a de uma escada de tres degraos, que vay apontada com o numero 1. e no alto della se acha hum pateo lavrado ao pico, e no meyo huma caixasinha quadrada, que tem hum palmo de vaõ, e meyo de profundo, que vay notada com o numero 2. Para a parte do Oriente tem este fragaõ do alto para a terra quatro varas, e virado para o Oriente tem no meyo aberto ao pico por elle dentro huma janella, que tem de altura seis palmos, e de largo quatro e meyo, e de profundo no alto entrado na mesma fraga três, e da parte debaixo fica igual com a mesma fraga, e mostra ser obra, que se naõ acabou, e vay notada com o numero 3.

 

 

Figura 28 – Desenho da fraga classificada com a letra D.

 

555) Em distancia de quatro varas da fraga da letra D, caminhando para o Nascente, está huma pequena fraga levantada da terra vara e meya, que todo o buraco do alto della he lavrado ao pico, e no meyo deste lavrado tem uma caixasinha quadrada, que tem hum palmo de vaõ, e de profundo meyo, a qual vay notada com o numero 1.

 

Figura 29 – Desenho do fragão classificado com a letra E

 

556) Depois da fraga da letra E, em distancia de quatro varas para o Nascente, em sitio plano está uma grande fraga, toda maciça, e lavrada ao pico, e escoda, que tem de comprido sete varas e meya, e toda muy plana.

557) Da parte do Ocidente fica hum palmo levantado da terra, e por esta parte foi lavrada, tascada ao pico, e escoda da altura de hum palmo, cuja faixa he corrada em cantos, e o lance em que vay o numero 1. tem doze palmos de comprido, numero 2. hum palmo, numero 3. nove palmos, numero 4. Tres palmos e meyo, numero 5. Dous palmos, numero 6. Cinco palmos, numero 7. Dous palmos, numero 8. Dous palmos, numero 9. Tres palmos, numero 10. Cinco palmos, numero 11. Palmo e meyo, e onde vay o numero 12. se aponta ser toda a fraga lavrada ao nível, em que se achaõ abertas as figuras seguintes, assim, e da maneira, que vaõ debuxadas, tudo aberto na mesma fraga.

558) A caixa do  numero treze tem de vaõ em comprimento tres palmos, de largo dous, e de profundo tres.

559) A do numero 14. tem de vaõ em comprimento dous palmos e meyo, de largo hum palmo, e de profundo meyo. E junto a ella hum buraco do numero 15. que tem hum palmo de largo, e outro de profundo.

560) A caixa do numero 16. tem de comprido palmo e meyo, e de largo hum, e de profundo palmo e meyo.

561) A caixa do numero 17. tem de vaõ em comprimento quatro palmos e meyo, tres de largo, e quatro de profundo.

562) A caixa do numero 18. tem dous palmos de vaõ em quadro, e de profundo palmo e meyo. E todas estas cinco caixas, que estaõ dentro da figura, debuxada de quatro cantos, no mayor comprimento desta figura vaõ dous pares de buracos com o numero 23. que mostraõ ser de dobradiças de tapadoura, que fechava em frente, no buraco quadrado, que tem hum palmo em quadro, em que vay o mesmo numero 23. a qual figura de quatro cantos he rebaixada do plano da fraga, altura de hum palmo.

563) A caixa do numero 19. Tem de profundo palmo e meyo, de comprido outro tanto, de largo hum.

564) A caixa do numero 20. Tem de comprido o vaõ della dous palmos, de largo hum, e de profundo outro.

565) A caixa do numero 21. tem de vaõ em comprimento palmo e meyo, de largo hum, e de profundo outro. E defronte lhe fica hum buraco, em que vay o numero 22. que tem meyo palmo de vaõ, em largura, e altura.

 

 

Figura 30 – Fotografia (parcial) do fragão classificado com a letra F.

 

   

 

Figura 31 – Desenho anexado ao relatório, representando o fragão classificado com a letra F.

 

566) Mais abaixo da fraga F, em distancia de vara e meya, está um fragaõ levantado da terra uma vara, e tem de hum lado principiada huma escada, que naõ foy acabada, e da outra se acabou de todo, abertas no próprio fragaõ, que he de pedra mármore, que vay notada com o numero 1.

 

567) Finda a escada, se acha este fragaõ posto ao nível ao pico, e no meyo do plano está uma caixa, que tem de profundo no mesmo fragaõ tres palmos, de comprido quatro, e de largo dous e meyo, que vay apontada com o numero 2. e da parte de fóra a hum lado tem hum buraco redondo, de meyo palmo de largo, e outro tanto de alto, que na estampa vay apontado com o numero 3. e em huma das cabeceiras outro buraco, do mesmo modo em que vay a numero 4.

568) No lado Sul deste fragaõ está hum tarjaõ na frente do Sul, em que se achaõ as letras, que vão copiadas na estampa, das quaes o tempo gastou muitas, que vaõ em falso apontadas com pontos, o qual tarjaõ vai apontado com o numero 5. E as letras parecem querer dizer: Diis Severis locatis in hoc Templo :::::: Gneus Caius Calpurnius Rufinus. Isto he: Gneo Caio Calpurnio Rufino dedicou esta obra aos Deoses Severos, que habitaõ neste Templo.

 

 

Figura 32 – Representação da fraga classificada com a letra G.

 

569) Depois do fragaõ da letra G, caminhando para o Nascente, em distancia de cinco varas, está uma fraga marmore, levantada da terra uma vara para o alto, da qual se sobe por huma ponta, em que na copia della vay o numero 1. e no alto della tem huma tarja lavrada ao pico, e escoda, com hum buraco no meyo, e na igualdade desta, lavrada no meyo da fraga, que fica na fronte do Ocidente, tem um trajaõ com as letras, que nelle vaõ copiadas, que vay apontada com o numero 3. cujas letras se copiaraõ, excepto as que faltaõ na ultima regra, por estarem extintas, e em cima deste fragaõ para a parte Norte estaõ abertas na mesma fraga as tres figuras que na estampa se vem. A inscrição quer dizer: Aqui se sacrifica o que cabe da res sacrificada, e os intestinos se queimaõ nos quadrados fronteiros. Lago sagrado de toda a sorte, ha de permanecer.

 

 

Figura 33 – Representação esquemática da fraga classificada com a letra H.

 

 

570) Logo mystico à fraga da letra H, está hum grande fragaõ, e no alto delle tem huma caixa aberta na mesma, que tem de profundo tres palmos, de comprido quatro, e de largo tres, que vay apontada no numero 1. E a esta caixa corresponde hum tarjaõ no lado do mesmo fragaõ, virado para o Oriente, com as letras, que na estampa vaõ copiadas, como se acharaõ, que vai notada com o numero 2.

571) No alto do mesmo fragaõ, em distancia da dita caixa duas varas, está huma urna aberta na mesma fraga, a qual vai apontada com o numero 3. e junto della hum buraco redondo de meyo palmo de vaõ, e a esta urna corresponde hum tarjaõ, que está no lado do mesmo fragaõ, virado para o Nascente, com as letras, que da estampa constaõ verdadeiramente copiadas, que vai notado com o numero 4.

572) No alto do dito fragaõ, em distancia da dita urna tres varas, está outra caixa, que vay apontada com o numero 5. que tem de profundo tres palmos, de comprido quatro e meyo, e de largo dous e meyo, e a esta caixa corresponde hum tarjaõ, que está no lado do dito fragaõ, virado para o Oriente, como os mais em que vaõ copiadas as letras, que nelle se acharaõ, e vay notado com o numero 6.

 

Figura 34 – Desenho da fraga classificada com a letra I.

 

 

573) A inscrição do numero 2. quer dizer: Gneo Caio Calpurnio Rufino, Varaõ Consular, dedicou este lago eterno com este Templo, em que se queimaõ as victimas aos Deoses e às Deusas, e a todas as Divindades, e aos Lapitas. Lapitas eraõ huns Povos de Thesalia, que se denominavaõ assim de Lapito, filho de Apollo, e eraõ muy vaõs, e soberbos, de forte, que entre os Gregos era frase para explicarem hum homem orgulhoso, e altivo, dizerem: He mais arrogante, que hum Lapita. Eraõ igualmente robustos, e deles faz menção Virgilio nas Georgicas, livro 3, dizendo: Fæna Pelefhronii Lapithæ, girosque dedere. E mais largamente Ovidio nas Methamorphsis, livro XII.

574) A inscrição do numero 6. Quer dizer: Gneo Caio Calpurnio Rufino, Varaõ Consular, dedicou esta obra com este Templo aos Deoses, e este he o lago onde por voto se mistura.

 

575) Depois do fragaõ da letra I, caminhando para o Oriente, na direitura da urna redonda continúa huma fraga, que sahe daquele fragaõ em distancia de vinte e quatro varas, e hum toro mais levantado no fim della, se acha no alto huma caixa aberta ao pico, que tem em comprimento tres varas, e de largo dous palmos e meyo, que vay notada com o numero 1. e tem sómente tres palmos de profundo.

576) Nesta mesma fraga, distante da sobredita caixa quatro palmos e meyo, se acha aberto na mesma fraga hum quadrado de altura de dous dedos, que vai notado com o numero 2. e do meyo delle sahe hum cano rebaixado outros dous dedos, que vem discorrendo até cahir do alto da fraga abaixo, que vai notado com o numero 3. e nos lados deste cano estaõ as pegadas, que vaõ notadas com o numero 4. De mesmo modo, que se achaõ esculpidas.

 

Figura 35 – Esboço da fraga classificada com a letra L.

 

 

 

577) No mesmo monte em que estaõ as estampas retrò, distante da Igreja para a parte do Sul hum tiro de mosquete, está hum fragaõ, no alto do qual está aberto hum lagar, que vay apontado com o numero 1. que em cada hum dos lados mais estreitos tem doze palmos de vaõ, porém de profundo sómente dous palmos e meyo, e no meyo do mais alto delle sahe hum cano, ou bica, que discorre pelo fragaõ distancia de oito palmos, que vay notado com o numero 2. até discorrer na urna do numero 3. que lhe fica inferior, a qual tem de vaõ sete palmos, e de profundo dous, tudo feito no mesmo fragaõ; e nos lados do dito lagar tem dous buracos, que cada hum tem de comprimento dous palmos e meyo, e de largo hum, que vaõ notados com o numero 4. que representaõ servir para nelles meter cousa, que conduzisse a espremer.

 

Figura 36 – Esboço da fraga classificada com a letra M.

 

Contador D’Argote, depois de transcrita a relação dos monumentos existentes em Panoias naquela época, faz ainda no seu livro, para os entendidos em História Antiga, uma análise sobre Panoias desde a Pág. 350, à Pág. 358, no entanto, não corrige o relatório no que toca ao tipo de rocha onde está feita esta obra. É mencionado várias vezes que as construções são feitas em pedra mármore o que não corresponde à verdade, pois todas elas se encontram trabalhadas em afloramentos graníticos. No entanto, em vários sítios da Internet, são-lhe atribuídas a ele essas palavras, o que também não corresponde à verdade. Argote apenas transcreveu o documento enviado à Academia Real pelo pároco de Vale de Nogueiras e pela Câmara de Vila Real.

 

Atualmente, várias destas pedras já desapareceram juntamente com as inscrições que continham, porque tardiamente a Câmara de Vila Real o adquiriu no sentido de preservar este local apesar dos apelos do “Arqueólogo Português” em artigos publicados em Maio e Junho de 1894 em dois periódicos de Vila Real.

 

Segundo um estudo datado de 17 de Julho de 1883, “Apontamentos sobre monumentos antigos existentes em Panoias”, uma das inscrições desaparecidas tinha o seguinte texto:

 

HVIVS HOSTIAE QVAE CA

DVUNT HIC IMMANTVR

EXTA INTRA QVADRATA

CONTRA CREMANTVR

SANTVS LAC. KVII SPACTO

SVPERFV...TVR

 

 

Posteriormente, outras interpretações foram apresentadas para as palavras gravadas, no entanto por mais estudos que se façam, nada vai repor a rocha “H” juntamente com a sua inscrição, cuja tradução parece ser a seguinte:

“Aos Deuses…As suas vítimas que se abatem, imolam-se aqui; as entranhas queima-se em frente, dentro dos tanques; o sangue espalha-se ao pé pelas pias.”

 

Outra das inscrições tem o seguinte texto:

DIIS CVM AEDE

ET LACV M. QVI

VOTO MISCETVR

G C CALP RUFI

NVS V C

 

 

A tradução será aproximadamente: Gneio Caio Calpurnius Rufinus consagrou dentro do templo, um santuário dedicado aos deuses severos.

 

 

 

 

Figura 37 – Imagem de uma das três inscrições, pertencentes à fraga I.

 

 

 

 

Uma outra inscrição que se pode encontrar na mesma fraga, apresenta o seguinte texto:

 

DIIS DEABVSQVE AE

TERNVM LACVM OMNI

BVSQVE NVMINIBVS

ET LAPITEARVM CVM

HOC TEMPLO SACRAVIT

G C CALP RVFINVS V C

IN QVO HOSTIAE VOTO

CREMANTVR

 

 

A tradução que os peritos dão a esta mensagem é esta:

 

“Aos Deuses e Deusas e também às divindades dos Lapitaes, G. Caio Calpurnius Rufinus, Varão Consular, consagrou este tanque sagrado e este recinto eterno, no qual se queimam vítimas por voto”.

 

 

 

Figura 38 – Imagem da inscrição anterior, pertencente também à fraga I.

 

 

A terceira inscrição da fraga “I”, mais esbatida e menos esclarecedora para o vulgar visitante, mas suficientemente estudada por várias entidades Portuguesas e estrangeiras, parece mostrar-nos o texto que se transcreve:

 

Y’I’ICT CEPA

PIDI CYN KAN A

P KAY MYCTOPIOIC

G C CALP.RVFINVS VC.

 

 

 

 

Figura 39 – Inscrição em Grego, incluída na fraga I.

 

 

 

A esta inscrição gravada em Grego, atribui-se o seguinte significado:

 

“Ao altíssimo Serápis, com o destino e os mistérios, G. C. Calpurnius Rufinus, claríssimo”.

 

A última inscrição que se pode encontrar no templo de Panoias, apresenta-nos o texto:

 

DIIS SE (veris) MAN (ibvs) DIIS IRA (tis)

DIIS DEABVSQVE (loca)

TIS (hic scravit lacvm et)

AEDEM (Gneus Caius Ca) LP (urnius Ru) FINVS (Clarissimus Vir)

 

 

Traduzida que está por entendidos em História da Era Romana, a tradução que nos dão é a seguinte, supondo ser correto o seu raciocínio quanto às letras que estão ilegíveis e que são escritas em minúsculas:

 

“Aos Deuses infernais irados que aqui moram, dedicou G. C. Calpurnius Rufinus, varão esclarecido, este templo e esta cavidade para se proceder à mistura”.

 

 

 

 

 

Figura 40 – Inscrição gravada na fraga catalogada com a letra G.

 

 

 

 

Muito mais se poderia dizer sobre o templo Serápio de Panoias, mas a falta de acesso aos livros que poderão conter a informação, limita a sua recolha. Por outro lado seria um trabalho demasiado exaustivo sobre um assunto que não é o principal.

 

 

 

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