top of page

  Lenda Da Sta. Cabeça

“Diz-se que em tempos muito remotos, roubaram de Constantim a Santa Cabeça de S. Fructuoso transportando-a para a Galiza onde ficou guardada num relicário de ouro. Misteriosamente no entanto, a Santa Cabeça desapareceu do lugar onde os ladrões a tinham guardado para aparecer de novo na igreja de Constantim. Diz a lenda também que a Santa Cabeça tinha o poder de preservar o pão em que tocasse, curava pessoas e animais mordidos por cães danados e protegia as searas das investidas das pragas.”

 

Penso que o texto apresentado, reflete aproximadamente o conteúdo da lenda da Santa Cabeça que as crónicas mantêm registada.

 

No entanto e segundo o que se lê atualmente nas mais diversas versões da lenda, já este texto se encontra completamente adulterado pelas sucessivas transmissões da lenda quer de forma falada quer escrita, o que pressupõe como óbvio que quanto mais antigo o texto fôr, mais aproximação obtemos do texto original da lenda.

 

A referência mais antiga que encontrei desta lenda, está impressa no livro “Cuidados da Morte e Descuidos da Vida”, Tomo I, escrito em 1761 por Boaventura Maciel Aranha.

 

Figura 235 – Fragmento do livro de Maciel Aranha que refere a Lenda da Santa Cabeça.

 

Neste livro, diz que ladrões Portugueses levaram para a Galiza a Santa Cabeça e que ela desapareceu do cofre em que a tinham guardado, para aparecer de novo na sua igreja, não querendo permanecer entre estrangeiros.

 

Apesar de ser das mais conhecidas, no endereço www.lendarium.org, esta lenda tem a número APL 1709 e não se encontra descrita como sempre foi contada, mas encontra-se em outros endereços da Internet e em livros, mas de tal forma alterada que nem parece a mesma lenda. Por este facto, não merecem aqui a minha referência.

 

Na versão mais moderna de um blogue Constantinense, verificamos que os ladrões, autores do roubo de tão grande preciosidade eram afinal dois Galegos condenados à morte. Também descobrimos que não roubaram apenas a Cabeça de S. Frutuoso, mas sim e também, os seus ossos. Sabemos as condições climatéricas daquele dia. Sabemos que quando os sinos começaram a repicar acordando os moradores de Constantim, estes souberam imediatamente o que se passava, pelo que foram no encalso dos ladrões, adivinhando por magia ou força divina o caminho que os larápios tomaram. Sabemos também com certa exatidão o caminho que foi percorrido e a quem fora entregue o produto do roubo. Sabemos que as gentes das localidades por onde os ladrões passavam, se juntavam aos habitantes de Constantim, na tentativa de apanhar os larápios e com tanta gente em sua perseguição, afinal fugiram da mesma forma. Ao ser aberto o relicário onde foram depositados os santos restos mortais de S. Fructuoso, estes saíram voando rumo à sua igreja de Constantim, dobrando os sinos de novo nas localidades por onde as relíquias passavam, aparecendo depois misteriosamente na igreja de Constantim.

 

Perante todos estes argumentos, parece-me que não estamos perante uma lenda, mas sim perante uma notícia dada, após afincada investigação policial.

 

Por este motivo, penso que compete às pessoas mais cultas preservar a lenda e não adulterá-la com palavras inúteis embora bonitas, pois desta forma deixa de ser lenda. Uma lenda raramente possui coisas concretas e portanto, criando todo este enredo em torno do que se contava, destroi-se a lenda e prejudica-se a etnografia milenar de Constantim.

 

O site do IGESPAR, refere a existência de um documento datado de 1721 que fala da fama e dos benefícios atribuídos à Santa Cabeça.

 

236 – Fragmento do texto sobre a igreja de Constantim no site do IGESPAR.

 

Figura 237 – Fragmento do texto do site CULTURA-Revista de História e Teoria das Ideias.

 

O site CULTURA-Revista de História e Teoria das Ideias, no Vol. 27, Iconografia Religiosa das Invocações Nacionais, refere que a vontade em possuir relíquias era tal, que se não olhava a meios para as obter, havendo portanto a hipótese de a Santa Cabeça ter sido efetivamente roubada.

 

Verifica-se no entanto uma imprecisão no texto, pois a relíquia nunca terá sido guardada em Constantim com grades douradas. De acordo com os textos isso aconteceu quando foi roubada para a Galiza.

Por mais bonitas que sejam as palavras que se acrescentem no sentido de tentar construir uma história, apenas se contribui para adulterar a lenda transformando-a em mais uma historieta. Neste contexto portanto, apela-se ao bom senso para que se deixe de inventar e que se preserve definitivamente a lenda da Santa Cabeça de S. Frutuoso de Constantim, da forma mais imutável possível.

 

No endereço da Internet http://www.geocaching.com/seek/cache_details.aspx?wp=GC1M54N, J.A. Pires de Lima refere a lenda de uma forma resumida e conforme a figura seguinte documenta, sem fantasiar em torno dela.

 

 

Figura 238 – Fragmento do texto do site www.geocaching.com.

 

Numa opinião muito pessoal, penso que responsáveis religiosos da Sé de Braga terão furtado as relíquias de S. Fructuoso ludibriando os habitantes de Constantim, tendo posteriormente, face ao descontentamento da população, devolvido o que quiseram, utilizando estratagemas de ordem diversa, no sentido de serenar os ânimos dos crentes.

 

A incapacidade do povo para justificar o desaparecimento da Sta. Cabeça e com base nas mentiras que lhes foram apresentadas, terá dado origem à lenda.

 

-

.

.

.

bottom of page