Queima do Judas.
A Queima de Judas é uma tradição ancestral, de origem pagã relacionada com a celebração da chegada da Primavera e o consequente fim do Inverno. Primitivamente, a passagem do Inverno para a Primavera, era celebrada com cerimónias e sacrifícios diversos.
Essas práticas foram entretanto sendo absorvidas pelo cristianismo e a coincidência entre esta tradição e a chegada da Primavera, levou as pessoas a práticas que significavam a expulsão do Inverno, período negro associado aos males da sociedade, ao frio e ao escuro e portanto purificar a parte do ano que iria seguir-se.
O cristianismo entendia na época que a purificação do corpo e da alma se fazia pelo fogo e que desta forma se consumava a expiação dos pecados.
A base deste costume é a traição de Judas a Jesus Cristo, entregando-o aos seus captores e que como sabemos, acabou por se enforcar. O povo como punição acaba por o queimar adoptando a ideologia cristã.
Para que a tradição se cumpra, no Sábado de Aleluia, dia anterior ao Domingo de Páscoa, confecciona-se um boneco que é enchido normalmente com palha podendo conter outros materiais.
Depois, por volta das 10 horas da noite, após terem apanhado o traidor de Jesus, seguem em conjunto para o local onde Judas será queimado.
Figura 253 – Aspeto geral do cortejo que conduz Judas ao local onde será queimado.Foto de https://constantim.wordpress.com
Durante o trajecto, que normalmente inclui as principais artérias da povoação, são lidas em voz alta, sátiras às figuras da terra que mais se destacaram positiva ou negativamente.
Com a figura principal deitada num caixão e representada por um morador, o cortejo vai atravessando a aldeia acompanhado de grande quantidade de pessoas que dá azo à sua euforia demonstrando sentimentos diversos relativamente ao traidor. Se uns choram por ele, outros gritam, outros ainda maltratam-no gerando um alarido enorme, que se entrelaça com o som do grupo de bombos que precede a procissão.
Alguns elementos equipados com tochas acesas ladeiam o cortejo dando-lhe a autenticidade de um verdadeiro funeral. Um suposto padre, uma banda de música e gigantones integram também o cortejo acompanhando a representação teatralizada da vingança do povo sobre Judas.
Figura 254 – Queima do Judas em Constantim. Foto de https://constantim.wordpress.com
Chegados ao recinto das festas, local onde se tem consumado a queima da figura central desta celebração, é com novas sátiras que é lido o testamento dos haveres deixados por Judas. Finalmente cumpre-se a parte principal da tradição, a queima de Judas.
Esta tradição embora antiga, esteve adormecida durante muito tempo renascendo há alguns anos pela mão de alguns entusiastas que embora de forma mais elaborada que antigamente, ajudam a preservar uma parte da nossa identidade e das nossas raízes culturais.
-
.
.