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  Dia de Reis

A tradição, tem origem na visita que “alguns magos do oriente” fizeram a Jesus Cristo pouco tempo após o nascimento, trazendo-lhe presentes, e que, segundo a Hagiologia Cristã, ocorreu no dia 6 de Janeiro. Assim, a noite de 5 para 6 de Janeiro é conhecida como Noite de Reis.

 

Esta tradição surgiu no Século VIII e converteu em santos Belchior, Gaspar e Baltazar. É nesta data que tradicionalmente se encerram os festejos natalícios.

 

Os Magos foram mencionados apenas no Evangelho de S. Mateus, sem no entanto se especificar quantos eram e se eram reis, não havendo também relatos bíblicos sobre os seus nomes.

 

Não dizendo quantos magos eram mas tendo-se registado três presentes, diz-se então terem sido três, tendo oferecido ouro, incenso e mirra. O ouro que simbolizava a realeza, o incenso que representava a divindade e a mirra como símbolo da essência humana de Jesus.

 

De acordo com a tradição católica um dos magos era negro (africano), o outro branco (europeu) e o terceiro moreno (assírio ou persa) e representavam toda a humanidade conhecida daquela época. Quanto aos nomes dos três, são apenas suposições sem qualquer base histórica ou bíblica. Foi Beda, um cronista inglês que viveu entre 673 e 735 D.C., quem deu nome aos magos: Gaspar, Melchior (ou Belchior) e Baltazar.

 

A designação "Mago" era dada, entre os orientais à classe dos sábios ou eruditos, por isso, os magos não seriam reis, mas antes sacerdotes da religião Zoroastra, conselheiros ou astrónomos. A religião Zoroastra ou Zoroasta, possuía conceitos religiosos como a existência do paraíso, a ressurreição, o Juízo Final e a vinda de um Messias, conceitos que acabaram por influenciar a religião Católica, o Judaísmo e o Islamismo.

 

A simbologia cristã atribui aos Magos o título de reis por simbolizar que os poderosos e abastados devem curvar-se perante os mais humildes, partilhando os seus haveres com os mais necessitados.

 

Em Constantim e com base neste princípio, grupos de pessoas, maioritariamente compostos por crianças, percorriam a aldeia indo de porta em porta levando cânticos constituídos por quadras rimadas na esperança de receberem algumas guloseimas ou dinheiro que no final era dividido equitativamente entre todos os elementos do grupo. Se a maioria dos grupos apenas cantavam em coro, havia também grupos cujos cânticos eram acompanhados com instrumentos musicais, à semelhança do que acontece atualmente com o intuito de não deixar morrer a tradição. Havendo no passado mais pessoas necessitadas, era pois óbvio que mais pessoas saíssem às ruas para cantar os reis entoando quadras nas quais elevavam as qualidades dos moradores a cujas portas se cantava.

 

Para que permaneçam vivas, aqui deixo algumas das quadras que saiam das gargantas dos cantadores, umas vezes afinadas, outras, nem por isso:

 

1

Ind’ágora aqui cheguei

Pus o pé nesta calçada,

Logo o meu coração disse

Q’aqui mora gente honrada.

 

4

Viva o Sr. Joaquim,

Corrente de ouro ao peito,

Quando vai para a igreja,

Todos lhe guardam respeito.

 

7

Quem Diremos nós que viva

Na folhinha da ervilha,

Viva o Sr. Albertino,

E mais a sua família.

 

10

O Senhor por ser Senhor,

Nasceu em tristes palheiros,

Deixou cravos deixou rosas,

Deixou lindos travesseiros.

2

Os três reis do Oriente,

Já chegaram a Belém,

Visitar o Deus Menino,

Que Nossa Senhora tem.

 

5

Viva lá o Sr. Manuel,

No seu banquinho a ler,

Quando vai para a janela,

Parece o sol a nascer.

 

8

Quem diremos nós que viva,

Na florinha da giesta,

Bote cá os Reis p’ro saco,

Acabou-se a nossa festa.

 

11

O Menino está no berço,

Coberto c’o cobertor,

Os anjos lhe vão cantando,

Louvado seja o Senhor.

3

Viva lá o Sr. João,

Casaquinho de veludo,

Meta a mão ao seu bolsinho,

Bote p’ra cá um escudo.

 

6

Viv’á menina Joana,

Debaixo da laranjeira,

As folhas lhe vão caindo,

Sobr’a sua cabeleira.

 

9

Levantem-se lá senhores,

Desse banquinho dourado,

E venham-nos dar os reis,

Que já os temos cantado.

 

12

Quem diremos nós que viva,

Deu a cereja no ramo,

Boa noite meus senhores,

Adeus e até p’ro o ano.

 

Além destas havia ainda mais quadras, que baseadas ou não nas figuras do presépio, eram alternadas com estas e outras conforme a opção do grupo, que definia previamente as quadras que seriam cantadas.

 

Também no caso de os moradores ignorarem os cânticos não abrindo as portas, havia pelo menos uma quadra que se lhes dirigia em sentido mais ou menos depreciativo mas não ofensivo, contendo os versos que se seguem.

 

Estas barbas, estas barbas de farelo,

Não tem nada, não tem nada que nos dar,

Tem uma, tem uma sardinha podre,

Debaixo, debaixo do alguidar.

 

Infelizmente, à semelhança de outras tradições, também esta começa a pisar as sendas do desaparecimento, acercando-se perigosamente da extinção.

Desnecessário se torne dizer, que ao perdermos uma parte da nossa Etnografia, é um pouco do nosso ser que se perde. É uma parte da nossa identidade que desaparece. É uma parte das nossas raízes que não mais voltará.

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