CRUZEIRO
Figura 181 – Cruzeiro na Rua de S. Gonçalo.
Um Cruzeiro é uma construção estilizada, com forma e altura diversificadas, encimada por uma “grande cruz de pedra”, erguida ao ar livre, no adro de igrejas, ou em encruzilhadas, praças, cemitérios, etc. e representam o espírito popular da devoção religiosa. Contudo, nem sempre esta causa foi determinante para a sua construção, pois muitos serviram para marcar acontecimentos de pendores variados e para proteger contra influências maléficas e feitiçarias, tanto os caminhos, como as encruzilhadas ou até os largos das aldeias.
Os Cruzeiros sagravam locais, dominavam e protegiam os campos. Recordavam epidemias, assinalavam momentos históricos e pediam orações e sufrágios.
Marcando pois, locais de acontecimentos individuais ou públicos, históricos ou religiosos, constituem ótimos elementos para o estudo das crenças, dos costumes, qualidades e tendências artísticas do povo, nas várias épocas da sua história.
Cada Cruzeiro tem uma história muito particular que, em muitos casos, deveria ser incluída nos conjuntos paroquiais, tão pouco estudados: igreja, adro, cemitério, ossário e casa paroquial.
Normalmente não têm grande valor histórico e artístico, contudo há alguns que são bons exemplares, bem desenhados e esculpidos.
Figura 182 – Classificação do Cruzeiro segundo o PDM de Vila Real.
Recorrendo ao volume III, do relatório sobre o património arquitetónico, inserido na revisão do PDM de Vila Real datado de Dezembro de 2008, na sua página 25, o cruzeiro do Senhor do Cruzeiro, encontra-se classificado com a referência 6.2 acompanhado de uma breve descrição.
A sua estrutura é simples. O soco é constituído por três degraus de planta circular, apresentando o degrau superior uma moldura também circular para encaixe do fuste. Este é cilíndrico com secção ligeiramente diminuída no topo. O capitel é liso em forma de barril com curvatura pouco pronunciada e separado do fuste por colarinho moldurado. É encimado por cruz latina de secção retangular com a imagem de Cristo esculpida em pedra na face da cruz. A base da cruz era envolvida por haste metálica com remate em argola para suporte da candeia, conservando-se cravado lateralmente, a meia altura do fuste, o gancho metálico para prisão da respetiva corrente.
O único pormenor de realce é a imagem de Cristo representada de forma desproporcionada e hirta, salientando a posição não anatómica dos pés, o que confere à escultura um cunho popular.
Originalmente o cruzeiro foi erigido no largo central da aldeia o Largo do Cruzeiro, provavelmente nos anos de 1500, século XVI de acordo com o relatório do PDM citado na página anterior, e com os dados bibliográficos existentes no Sistema de Informação para o Património Arquitetónico (SIPA).
Mas, como consequência da evolução, a chegada do automóvel inviabilizou a sua permanência nesse local, razão que levou à sua transferência em 1955 por iniciativa da Junta de Freguesia, para o ponto onde termina a atual Rua de S. Gonçalo e começa a Rua do Cruzeiro, junto à escola primária.
Mais tarde, já nos finais do Séc. XX e por se encontrar no ponto de construção de um dos acessos à via rodoviária A24, foi de novo transferido, penso que em definitivo, para o largo do cemitério, onde não impõe qualquer condicionamento e onde deverá permanecer até à eternidade.
Figura 183 – Cruzeiro na atual localização.
Figura 184 – Fragmentos das informações existentes nos arquivos do SIPA.
Por ser um cruzeiro de encruzilhada de arquitetura religiosa quinhentista, embora sem particularidades dignas de destaque, colabora na qualidade do espaço urbano e na ligação do tempo com o lugar devendo por isso ser bem preservado.
Figura 185 – Antiga localização do cruzeiro e pormenor da parte cimeira.
Figura 186 – Classificação sumária do cruzeiro nos arquivos do SIPA.
De lamentar portanto que a parte superior do capitel se encontre um pouco danificada e que não esteja completo, pois já não inclui a argola metálica para suporte da candeia que o iluminava. Impunha-se pois um pouco mais de respeito pelo monumento, que embora sem grande valor arquitetónico, já conta mais de 400 anos.
Por isso, era importante dar-lhe o aspeto e funcionalidade que tinha, para passar às gerações vindouras o conhecimento integral do significado e utilidade do nosso cruzeiro.
Figura 184-a – Cruzeiro de Constantim na localização original.
Foto do Centro Português de Fotografia (Cpf).
Antes da sua primeira transferência em 1955, este era o aspeto original do cruzeiro de Constantim, localizado no largo do Cruzeiro, como ainda hoje é chamado. O referido largo, é a confluência entre a atual Rua da Igreja e a Rua do Cimo da Rua.
Lamenta-se que a cobertura tenha desaparecido na mudança do monumento deixando-o incompleto, tendo a base sofrido também alterações, alterações essas que lhe deram um aspeto mais sóbrio, mais aprazível e portanto menos tosco que o original. Falta, no entanto, apurar se no soco (base) do cruzeiro permanecem as pedras originais.
Os créditos da foto, pertencem ao Centro Português de Fotografia (CPF), que a adquiriu a Manuel Macedo Leitão Vieira dos Santos, em Junho de 2000.
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