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CONSTANTIM NA AtualiDADE

A Nora

 

Introduzida em Portugal pelos Mouros, a Nora é um engenho de elevar água e é o resultado do cruzamento dos sistemas hidráulicos Romano, Visigodo e as tecnologias trazidas do Oriente, pois sendo povos oriundos de zonas áridas onde a água é um bem precioso, dominavam bem as técnicas de a captar, elevar, armazenar e distribuir.

Com a introdução da Nora, a lacuna deixada pelo Gastalho na quantidade de água a elevar e distribuir foi solucionada e este legado deixado pela presença Árabe, passou a ser amplamente usado de Norte a Sul do país.

Já não era um dispositivo rudimentar e tem um lugar de destaque na evolução da agricultura, podendo ser adaptada às diversas condições de extração aquífera.

Figura 395-A Nora com rodas dentadas cónicas.JPG
Figura 398.2 – Uma Nora com rodas dentadas cónicas.jpg

 

Figura 395 - Duas noras com rodas dentadas cónicas.JPG

 

A Nora é composta por três partes fundamentais, duas interligadas por rodas dentadas cónicas ou por um sistema de dentes e uma terceira composta por um sistema de corrente que suporta os alcatruzes. O veio vertical, era fixado ao lado do poço numa base sólida e tinha no topo uma haste, que com a introdução de um tronco permitia a sua movimentação deslocando-se em círculos. O movimento é transmitido pela roda dentada a uma outra instalada no veio horizontal que suporta por cravação uma roda externa, cujo diâmetro é proporcional ao poço.

Ganchos intercalados compõem um sistema de corrente dupla (calabre) que suporta os alcatruzes e que é movimentada pela roda. Finalmente um recetáculo é colocado no interior da roda para receber e canalizar a água para os campos, normalmente por um sistema de regos abertos à enxada.

Figura 396 - A nora equipada com dentes simples.jpg

 

Figura 396 - A nora equipada com dentes simples.jpg

Figura 397 - Uma nora restaurada e funcional.jpg

 

Figura 397 - Uma nora restaurada e funcional.jpg

Este mecanismo podia ser acionado por pessoas ou animais e o seu movimento fazia os baldes irem ao fundo do poço, encherem e regressarem cheios acompanhando sempre o perímetro da roda que traciona o sistema. Ao atingirem a máxima elevação e antes de iniciar o retorno ao fundo do poço, vertiam a água no reservatório um após outro criando o caudal necessário à rega.

Saliente-se que a roda que movimenta o acoplamento de púcaros, como eram chamados os alcatruzes, é unida ao eixo horizontal apenas de um dos lados, para que do outro se pudesse inserir o tabuleiro que recebe a água e a conduz ao circuito de rega.

Em torno dos poços de baixa profundidade onde as noras eram instaladas, era sempre construído um trilho para circulação do homem ou dos animais que moviam o engenho, cujo objetivo era elevar a Nora relativamente à água. Aumentando a distância, aumentava o calabre e o número de baldes e consequentemente aumentava a produtividade da Nora, que com menos voltas mantinha o caudal constante.

A Nora chegou a ter tal importância que se tornou num símbolo de poder económico, porém com o aparecimento dos motores de combustão, este secular sistema de irrigação foi progressivamente abandonado, encontrando-se a maioria das noras em estado de degradação.

Figura 398 - Uma nora passí­vel de ser restaurada.JPG

 

Figura 398 – Uma Nora passível de ser restaurada

Figura 398.a – Uma Nora elevada.jpeg

 

Figura 398.a – Uma Nora elevada

A Nora tinha a vantagem de poder ser construída de forma mais ou menos elevada, ajudando assim a vencer o desnível necessário para fazer chegar a água às culturas.

É evidente que seria impensável na atualidade, voltar a utilizar este método de rega completamente ultrapassado, no entanto, haver bom senso e encontrar formas de preservar tão importante património e que foi afinal um símbolo do nosso passado, parece-me que seria o mínimo que se podia fazer para manter viva esta peça que já foi fundamental nas vidas dos nossos antepassados.

Assim não pensa a Junta de Freguesia de Constantim que, no que diz respeito a conservar o passado, não faz nada, mas mesmo nada, o que é de lamentar.

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