igreja matriz - descrição arquitetónica interior
Na nave e capela-mor, os paramentos são rebocados e pintados de branco com pavimento em lajes de granito e cobertura em falsa abóboda de madeira com perfil curvo, com três tirantes em ferro colocados transversalmente.
Até às mais recentes obras de restauro, a abóbada da nave era também de madeira, com perfil curvo, tendo pintada em todo o perímetro uma faixa em forma de arcos invertidos, com motivos florais multicores e no centro da abobada, aparecia pintada a imagem de Santa Maria da Feira.
Figura 134– Vista do coro-alto antes do restauro.
Na entrada, o pavimento permanece em pedra para salientar o aspeto original da Igreja e o interior propriamente dito está agora em madeira antiga, de modo a tornar o espaço mais acolhedor, sobretudo no Inverno. A estrutura de madeira que separava a entrada da nave com vista a evitar o frio foi retirada e substituída por uma estrutura em vidro. A antiga estrutura possuía duas portadas centrais e duas portas laterais, o que impedia a entrada de luz tornando a igreja mais sombria.
Figura 133 – Interior da Igreja antes do restauro.
O coro-alto é de madeira, assente em quatro mísulas de pedra, com guarda em balaustrada também de madeira torneada, possuindo de ambos os lados, portas de verga reta, uma que lhe dá acesso e outra para acesso à torre sineira.
No sub-coro, em ambos os lados da porta principal, uma pia semicircular para água benta, lavrada em granito, sobressai da parede conforme mostra a figura seguir.
Figura 135 – Pormenor do Coro-alto visto de baixo, e de uma das pias de água benta localizadas na entrada principal.Só a porta de acesso à casa mortuária não tem pia. A que se localiza junto da sacristia tem forma diferente.
O batistério, do lado do Evangelho, localiza-se sob arco de volta perfeita, avançado da caixa murária, albergando pia batismal octogonal, provavelmente do séc. XVII, sobre pé circular e com tampa de madeira piramidal, sendo fechado por portas de duas ordens de balaústres torneados.
Do lado da Epístola surge arco de volta perfeita, com pequeno altar.
Figura 136 – Pormenor do batistério, aspeto atual do batistério e atual altar do Senhor da Cana Verde.
Ao longo da nave dispõem-se quatro capelas confrontantes, duas de cada lado, todas com arcos de volta perfeita, desenhados sobre pilastras toscanas albergando retábulos de talha dourada, de planta reta e um eixo ladeados por pequeno nicho para as alfaias. Nas paredes da nave expõem também as cenas da Via Sacra, peças que foram feitas propositadamente para esta Igreja e apresentam, também elas, particularidades únicas.
Figura 137 – Vista geral da igreja com as quatro capelas, o púlpito e o arco triunfal.
No lado do Evangelho, sensivelmente a meio da nave, sobressai da parede o púlpito, de bacia retangular, assente em mísula de acantos, com guarda de balaústres em madeira torneada, acedido por porta de verga reta através do piso superior da atual casa mortuária. A porta de verga reta aberta na parede da nave do lado do Evangelho, acede ao anexo, atual casa mortuária, de paredes em cantaria aparente, pavimento em tabuado de madeira e teto também em madeira, possuindo escadas de ligação ao púlpito pela sala de apoio com teto esconso e ligação ao coro.
Do lado da Epístola, junto à porta lateral da nave, possui pia de água benta gomada.
O arco triunfal ergue-se sobre pilastras toscanas unidas por arco de volta perfeita e ladeado por mísulas com imaginária onde no passado, como já foi dito, existiam dois altares que foram retirados durante o restauro mais recente.
Na capela-mor uma porta de verga reta dá acesso à sacristia e do lado oposto uma porta semelhante dá acesso à capela-mor ou ao exterior.
Sobre supedâneo acedido por vários degraus centrais, eleva-se a toda a largura o retábulo-mor em talha dourada.
O teto, tal como na nave é em falsa abobada de madeira escura com perfil curvo.
Antes das obras o perfil curvo era formado por caixotões contendo símbolos da paixão de Cristo. No centro continha símbolos da ressurreição, cercados de arlequins.
Figura 138 – Antigo teto da capela-mor.
Capela ou Altar de Nª Srª de Fátima
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As colunas e pilastras prolongam-se superiormente em três arquivoltas, sendo as duas exteriores torsas como as colunas e a interior quadrangular tal como as pilastras. Todas se unem com tres travessões em talha dourada, direcionados no sentido do raio.
No centro do retábulo abre-se nicho terminado superiormente em arco de volta perfeita, albergando um painel decorado com acantos sobre fundo azul.
O altar tem forma paralelepipédica, decorado com elementos vegetalistas e cartela central quadrangular em cor azul, de cantos recortados e com brasão.
O nicho alberga a imagem de Nª Senhora de Fátima sobre plinto baixo com banco decorado por apainelados de acanto e um arlequim ao centro.
A capela lateral do lado da Epístola, lado direito de quem entra está inserida entre pilastras toscanas, lavradas em cantaria e unidas por arco de volta perfeita. É um retábulo de planta reta e eixo côncavo, definido por quatro colunas de fuste torso, duas de cada lado, profusamente ornadas em talha dourada com elementos fitomórficos e com o terço inferior marcado. As colunas são assentes em consolas vegetalistas encimadas por capitéis coríntios e ladeadas por duas pilastras (uma em cada lado) decoradas da mesma forma.
Figura 139 – Aspeto do altar de Nª Senhora de Fátima.
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Capela ou Altar das Almas
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O retábulo das Almas é de características barrocas, de estilo nacional, de planta reta e corpo côncavo e estrutura geral igual ao da capela de Nossa Senhora de Fátima.
Destaca-se neste altar entre a talha dourada, a iconografia do painel central em alto-relevo, representando o fogo purificador do purgatório conciliado com a Santíssima Trindade, representada no topo pelo Pai, Filho e o Espírito Santo em forma de pomba.
A transposição das almas do fogo ao estado de graça é feita com a ajuda de anjos.
O plinto central encimado por banco decorado por apainelados de acanto e uma cabeça de anjo, ostenta a imagem de S. Jorge dominando o demónio.
O altar de forma paralelepipédica está decorado com acantos e elementos vegetalistas dourados e cartela central recortada.
Figura 140 – Aspeto do altar das Almas.
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Capela ou Altar de S. José que era o altar de Santa Ana
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A capela de São José é maneirista, de planta recta e de um eixo com remate em tabela, possuindo já em barroco nacional as colunas e os painéis com acantos em alto-relevo ladeando o nicho central.
O retábulo de talha dourada é delimitado por colunas torsas de fuste decorado por pâmpanos e fénices, superadas por capitéis coríntios, colunas que se erguem a partir de plintos paralelepipédicos com acantos. No centro, possui pequeno nicho de arco de volta perfeita sobre pilastras, ambos decorados com acantos, de fundo pintado a azul celeste e com mísula para imaginária e que suporta a imagem de S. José. O nicho é ladeado por quatro painéis de acantos, sendo os painéis centrais de relevo bastante pronunciado.
O ático é composto por friso decorado de acantos e um querubim central, encimado por cornija, assente em mísulas, sobre a qual assenta cartela rectangular horizontal, com painel florido pintado, entre quarteirões, e encimado por querubim central, rosas e outros elementos fitomórficos de talha.
O Altar tem forma paralelepipédica, com enrolamentos de acantos marcando os sebastos e sanefa, possuindo dois painéis laterais pintados com motivos florais e um central com brasão de armas esquartelado da família de Bernardo José Teixeira Coelho de Mello Pinto que foi administrador desta capela (segundo o site da SIPA) e que parece ter nascido em Vila Real em 1684.
Figura 141 – Aspeto do altar de S. José.
Figura 142 - Brasão de Bernardo J. Teixeira Coelho de Mello Pinto.
Há alguns anos este retábulo ostentava a imagem de Santa Ana, mas actualmente é a imagem de S. José que dá vida à talha dourada que circunda a imagem, não se sabendo o paradeiro da imagem de Santa Ana.
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Capela ou Altar de Nª Senhora do Rosário
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O retábulo da capela de Nossa Senhora do Rosário é um pouco posterior ao altar ou capela de S. José.
Em estilo joanino, salienta-se dos demais pelo uso, nos quarteirões definidores do eixo, de anjos tocheiros de vulto, pela profusão decorativa do ático e pelo elemento nasoniano na mísula, de fragmentos de cornija invertidos.
Esta capela possui retábulo de planta recta e um eixo de corpo côncavo, definido por quatro pilastras decoradas com acantos e concheados sendo as exteriores mais finas.
Quatro quarteirões com capitéis coríntios decorados com anjos tocheiros de vulto, assentes em consolas com anjos atlantes medeiam as pilastras.
No eixo central, abre-se o nicho de perfil curvo com drapeados fingidos e lambrequins, com o fundo pintado de azul e decorado de acantos, albergando a imagem de Nossa Senhora do Rosário que assenta sobre mísula, decorada com fragmentos de cornija invertidos.
O ático é formado por friso de querubins e cornija de ressaltos, encimada por três arquivoltas de diferentes dimensões e decoradas com motivos fitomórficos, tendo entre si enrolamentos, motivos concheados, ramos e palmetas estilizadas.
No centro do ático, flanqueado por dois anjos de vulto, sobressai um escudo português encimado por coroa.
O altar é também paralelepipédico, com marcação de sebastos e sanefa, tudo profusamente decorado com motivos fitomórficos.
Figura 143 – Panorâmica da capela de Nª Sr.ª do Rosário.
As capelas, tinham morgados e bens a elas vinculados sendo a capela de Nª Sr.ª do Rosário administrada em 1732 por João de Sousa de Sequeira, da cidade de Lisboa.
Esta informação foi retirada no site do SIPA, na rubrica “Cronologia” onde são referidos os acontecimentos e datas referentes aos eventos mais importantes que envolveram e envolvem a nossa igreja.
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Capela ou Altar-Mor
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O retábulo mor, de fina talha dourada no estilo barroco e maneirista, ergue-se a toda extensão em altura e largura da capela-mor.
Possui planta reta e três eixos delimitados por seis colunas, de fuste liso, mas profusamente ornado com altos-relevos bem vincados de cartelas, volutas, elementos fitomórficos, querubins, acantos e outros elementos de talha, com terço inferior marcado e terminadas em capitéis coríntios encimados por cornija larga sobre embasamento nos eixos laterais.
O terço inferior é marcado, delimitado por cornija e igualmente decorado com profusão à base de acantos e outros elementos fitomórficos.
Duas ordens de plintos paralelepipédicos suportam as seis colunas, sendo os plintos do centro de ordem única suportando cada plinto duas colunas.
Em ambos os lados, portas profusamente decoradas permitem o acesso à tribuna. São decoradas com os mesmos elementos e na sua talha salienta-se uma voluta frontal na parte cimeira de cada porta.
Figura 144 – Vista geral do Altar-mor.
No eixo central, abre-se tribuna de arco de volta perfeita, pintado a marmoreados fingidos, interiormente decorado com apainelados de talha de fundo pintado com flores. O vão da tribuna em todo o seu perímetro interior é coberto por caixotões decorados com apainelados de talha e um rosetão central.
No interior da tribuna, dando profundidade e volume ao conjunto, ergue-se trono de quatro andares, sendo o primeiro mais largo e o seguinte sucessivamente mais pequeno que o anterior. O trono é decorado frontalmente por dois apainelados laterais curvos, unidos por drapeado pendente. A encimar o trono surge expositivo com resplendor ostentando a imagem do Menino Jesus.
Nos eixos lateais surgem painéis dourados lisos, moldurados com apainelados em talha em cujos painéis se fixam na parte inferior mísulas com três volutas e outros elementos fitomórficos, encimadas por cornijas com apainelados. A mísula do lado esquerdo ostenta a imagem da padroeira, Sta. Maria da Feira e a do lado direito, alberga a imagem do Mártir S. Sebastião.
O ático exibe na zona central quatro quarteirões com enrolamentos duplos que sustentam cornija decorada com arcas da aliança em talha e frontão de volutas a ladear elemento decorativo ao centro em forma de cartela com circunferência convexa. Por baixo da cornija um friso em talha une os dois quarteirões centrais onde sobressai o elemento de vulto que remata a tribuna.
Figura 145 – Vista parcial do Altar-mor.
No ático, sobre os eixos laterais surgem dois painéis figurativos, com representações de frades ladeados por enrolamentos.
O sacrário, a peça mais valiosa do conjunto, está disposto no centro do retábulo ao nível do primeiro terço e apresenta-se em forma de templete, bastante amplo e de planta pentagonal.
É delimitado por colunas de fuste liso decorado com elementos fitomórficos e com o terço inferior marcado sendo duplas na parte frontal. As colunas suportam a arquitrave, de friso decorado por elementos vegetalistas que é encimada por cornija assente em plintos e consolas.
Figura 146 – Sacrário rotativo.
Figura 147 – Nichos laterais do Sacrário.
Nas duas faces laterais abrem-se nichos de arco de volta perfeita sobre pilastras, com imagens da paixão de Cristo em ambos os lados, à esquerda “A Prisão de Jesus “ e à direita “Jesus Descido da Cruz”.
Na face frontal, acolhe sacrário giratório, representando-se em cada uma das faces, delimitadas por quarteirões ornados de acantos, cenas da Paixão de Cristo; “Prisão de Jesus”, “Flagelação”, Crucificação” e “Ascensão”. Todas as cenas são esculpidas nas respectivas faces em alto-relevo e a abertura do sacrário é feita pela face da Ascensão.
Figura 148 – As quatro faces do sacrário rotativo.
A cobertura do sacrário apresenta-se em forma de falsa cúpula pintada em marmoreado falso e rodeada na base por acantos em talha, sendo sobrepujada por um plinto baixo que suporta a cruz de madeira que ostenta uma belíssima imagem de Cristo crucificado.
Figura 149 – Detalhe do Sacrário mostrando em pormenor a talha dourada.
Basicamente o altar-mor é um retábulo em estilo Barroco devido à harmoniosa magnificência dos seus detalhes, compostos por colunas e estátuas, atravessado por frisos e ornamentado por folhagens e volutas, mostrando uma profusão decorativa tão esplendorosa que invade até a mais pequena superfície.
O altar é paralelepipédico, com marcação de sebastos e sanefa, decorados por concheados, formando três painéis todos ornados de cartelas com concheados.
A existência no ático, de dois painéis representando monges, faz presumir que este altar tenha pertencido outrora a um mosteiro ou convento, conforme informação do site do SIPA, não há no entanto dados que confirmem estas palavras nem que permitam obter a sua proveniência. Sabe-se apenas que o ático foi colocado no restauro do Séc. XVII e XVIII, pertencendo já o restante retábulo à primitiva igreja.
Um segundo altar em granito facejado onde actualmente são celebradas as missas, foi colocado posteriormente à frente do altar original.
Pensamos pois estar completa a descrição interior da nossa igreja.