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  O Candeeiro de Petróleo.

Durante o reinado das velas e das candeias, que nos últimos tempos de certa forma se mantiveram mais ou menos par a par, eis que em finais do século XVIII, surge o petróleo, que por ser mais barato, logo foi adotado por grande parte das cidades, especialmente na iluminação pública e em substituição do azeite.

 

Na realidade este combustível é um derivado do petróleo, conhecido como petróleo de iluminação e cujo nome é “querosene”, encontrando-se à venda em qualquer mercearia ou casa de comércio da época.

 

No século XIX começam a surgir os candeeiros a petróleo de utilização caseira capaz de fornecer mais luz que os sistemas anteriores, passando pois a ser o dispositivo de iluminação preferido.

 

As candeias de azeite sofreram ligeiras alterações e puderam também funcionar a petróleo, que além de se vender nas mercearias da época, era também distribuido pelo Gaseiro, um vendedor ambulante que em determinados dias passava em Constantim.

 

 

 

Figura 305 – Candeeiros a petróleo.

 

Estes dispositivos eram fabricados regra geral em vidro e eram compostos por uma base, superada pelo depósito para o combustível, ao qual se sobrepunha uma cabeça metálica fendida que segurava a torcida. A cabeça estava equipada com três ou quatro molas que serviam para segurar a chaminé, que enquanto direccionava para cima os detritos resultantes da combustão, funcionava como pára-vento.

 

A torcida, mais larga que as utilizadas nas candeias era regulada por uma roda dentada inserida na cabeça, que ao picar a torcida, por ação da roda exterior a empurrava para cima ou para baixo regulando assim a intensidade da chama.

 

 

Figura 306 – Torcidas para candeeiros a petróleo.

 

 

O combustível, por capilaridade ia subindo até embeber a torcida, estando assim preparada para receber o fogo e difundir a sua luz. Para acender a torcida que também dava pelo nome de mecha, havia que retirar a chaminé, atear o fogo e voltar a colocá-la no seu lugar, procedendo da mesma forma para o apagar.

 

Nas habitações era colocado onde proporcionasse melhor iluminação dependendo da ocasião e do lugar onde fosse necessário, quer junta à lareira se fosse hora de refeições, quer numa mesa se as refeições fossem à mesa, quer na mesa-de-cabeceira se fosse hora de deitar, ou num outro local consoante a necessidade.

 

Tal como com as candeias, existia também o modelo para exteriores e embora com formato diferente, a finalidade era a mesma. Transportar a luz e levá-la tão longe quanto fosse necessário sem que se ficasse às escuras por causa de ventos ou chuvas, sempre que se ia a casa de um familiar ou amigo, quando se ia ao quintal, ao palheiro ou à “loinja” deitar de comer aos recos, galinhas ou coelhos ou "pensar" outro tipo de gado.

 

 

Figura 307 – Dois modelos de candeeiros a petróleo para utilização no exterior.

 

Para se acenderem estes candeeiros, accionava-se uma mola que fazia o vidro subir e com o pavio exposto só faltava acender e baixar de novo o vidro. Estava pronto para levar luz ao mais escuro recanto da casa ou fora dela.

 

A partir do momento em que se iniciava a combustão, libertava um cheiro característico que se entranhava por toda a casa permanecendo por muito tempo, libertando também uma fuligem muito fina que se agarrava com unhas e dentes à chaminé, obrigando a intervenções frequentes de limpeza para melhor se usufruir da luz que irradiava.

 

Também nas ruas existiram lampiões a petróleo, mas desconheço que algum dia nas ruas de Constantim, tenha existido este tipo de iluminação, exceto talvez nos pequenos altares na berma das estradas e caminhos, que em Constantim se chamam “alminhas”, tal como acontecia na iluminação com azeite.

 

Embora por menos tempo, também os candeeiros de petróleo presenciaram com certeza momentos de brutalidade, de desânimo, de desespero, de alegria, de ternura, de carinho, de paixão e de amor intenso. Quando a chama se iniciava, era como se uma nova esperança nascesse. E ... se os candeeiros falassem….

 

Com o desaparecimento do candeeiro de petróleo, desapareceu também o Gaseiro com a sua corneta, que assiduamente passava por Constantim a fornecer petróleo e diversas quinquilharias, que anunciava a sua chegada com o som peculiar da sua inseparável corneta.

 

Com uma luz mais intensa que a dos seus antecessores, não só abriu brechas nas trevas do seu tempo, como também asfixiou gradualmente a centenária luz da candeia e reprimiu a milenar luz da vela. Apesar das atuais facilidades e comodidades, quantos Constantinenses não gostariam de voltar ao tempo do candeeiro de petróleo?

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