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  O Cesteiro.

A cestaria é a arte de entrançar fibras vegetais, de forma a obter objetos e utensílios de uso diário ou decorativo englobando também o fabrico de esteiras, bem como materiais de revestimento ou cobertura. Existem basicamente dois modelos essenciais, o entrelaçado (que inclui os tipos cruzado, encanado, enrolado e torcido), e o espiralado. Mas sejam quais forem as técnicas usadas, a arte obedece essencialmente às particularidades das fibras a usar e não aos padrões culturais de determinada região. A funcionalidade dos objetos determina os tamanhos, a matéria-prima a usar e consequentemente a técnica de manufactura. Esta arte completa-se com a mestria e a criatividade do artífice.

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A cestaria, arte habitualmente passada de geração em geração, conta com inúmeros artefactos com formas e feitios diversos. Trabalhados em verga, junco, palha e madeira, (normalmente jovens rebentos de castanheiro), atendiam a todas as necessidades diárias, quer nos duros trabalhos rurais, quer no transporte de produtos, pesca e comércio e até ao acondicionamento de tecidos, tendo desde sempre sido artefactos de valor utilitário quer de coleta, armazenagem ou transporte. Atualmente junta-se uma outra finalidade, a decoração.

A preparação dos materiais requer alguns requisitos para poderem ser trabalhados em segurança pelo artesão e se no caso de materiais mais volumosos, são levados ao lume para secar mais depressa e facilitar o trabalho de descasca e separação das tiras antes de serem colocados na água, outros são simplesmente mergulhados e mantidos debaixo de água para lhe dar flexibilidade variando o tempo de imersão de acordo com o material a usar.

 

Figura 318 – Ferramentas do cesteiro.

 

Figura 319 – O cutelo, foices, faca e podão.

O cesteiro necessita obviamente de algumas ferramentas para a execução do seu trabalho e que apesar de não serem muitas, têm no entanto funções bem definidas.

Na preparação da madeira, ele utiliza a cunha e a marreta para auxiliar a abertura da madeira, a foice para a seccionar e o cutelo para alisar e dar a espessura desejada.

Na construção e remate são utilizadas a foicinha ou podão, a cunha, a faca e o ferro que serve para bater e ajustar as varas.

No entanto, o elemento mais importante para o artesão é o banco de cesteiro, também conhecido como burro ou mula que permite fixar as varas enquanto estão a ser trabalhadas.

 

O banco possui uma forma alongada e relativamente baixa e é apoiado em três ou quatro pés que lhe conferem estabilidade, adaptando-se um dos extremos para que o cesteiro se possa sentar de forma mais comoda. Uma segunda prancha fixa no extremo oposto onde o artesão se sentará e mais elevada junto ao artesão, assenta numa espera com altura adequada ao artífice.

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Figura 320 – Banco de cesteiro.

Uma peça móvel atravessa ambas as pranchas num entalhe, tendo a parte cimeira maior largura (o barrelete) e no extremo inferior uma travessa (a apeanha) que serve para apoiar os pés e movimentar a peça através de um eixo colocado no banco.

Sempre que o cesteiro impulsiona a apeanha para a frente, o barrelete vem na sua direção fixando a tira de madeira a ser trabalhada, libertando desta forma ambas as mãos do artesão.

 

Preparada a matéria-prima, o cesteiro solta a imaginação e a destreza e inicia a construção da peça, de acordo com a função que o produto acabado irá ter.

 

Figura 321 – Cesteiro preparando as tiras no banco.

 

O método em espiral, consiste no enrolamento sucessivo das fibras que vão sendo cozidas com finas tiras vegetais ou outro tipo de material. Esta técnica adapta-se melhor a formas circulares e curvas, podendo o cozido passar entre os ramos ou atravessá-los, entrelaçar-se, amarar-se ou cruzar-se, obtendo as peças obtidas, resistência e solidez consideráveis.

O método tecido, engloba o tecido propriamente dito e o entrelaçado e consiste em dois sistemas de varas entre os quais se vão passando as tiras vegetais. Se no método tecido as tiras apenas se sobrepõem umas às outras, no sistema entrelaçado as tiras entrelaçam-se umas nas outras antes de contornarem as varas verticais, podendo depois ser executado com vários níveis de aperto.

 

Figura 322 – Método espiral.

 

Figura 323 – Método tecido e entrelaçado com 2 ou 3 fios.

 

Os trabalhos a executar, podem conter simultaneamente mais que uma técnica de produção e as peças acabadas podem ou não ser pintadas com “viochene”, palavra de origem francesa que significa velho carvalho, “vieux chêne”. A mistura é obtida com corantes ácidos dissolvidos em água ou álcool e confere aos trabalhos finalizados um tom castanho-escuro.

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Figura 324 – Bonitas peças de cestaria usadas vulgarmente em Constantim.

O aparecimento dos plásticos revolucionou tudo isto e lamentavelmente, tal como em muitos outros lugares, esta arte está extinta em Constantim restando noutras localidades poucas pessoas que insistem em mantê-la viva.

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