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CONSTANTIM NA AtualiDADE

O Fojo do Lobo

 

Existe em Constantim uma zona agrícola apelidada de Fojo, que ligeiramente adulterada é pronunciada como “Foijo” e sabemos que até meados do século XX embora de forma esporádica, ainda o lobo frequentava as terras de Constantim. Nos séculos anteriores o seu número era com certeza bem maior.

lobo iberico

​Figura 348 – O Lobo Ibérico

Parece portanto que o nome de “Foijo” não surgiu por acaso.

O Fojo é normalmente uma construção em pedra em jeito de armadilha que servia para atrair, aprisionar e matar o lobo que constantemente atacava os rebanhos. A perseguição ao lobo marcou durante séculos a relação entre o homem e o carnívoro com evidentes perdas para o lobo e para o combater todos os meios eram válidos, implicando alguns dos métodos grande engenho e um grande esforço como foi o caso dos Fojos, já que as armas antigas eram de curto alcance e pouco eficazes.

 

Estas construções, erguidas nos locais de passagem dos lobos ou nas serranias, eram constituídas por paredes de cerca de 2 metros o que implicava a mobilização de toda a aldeia para transportar grandes quantidades de pedra, na maioria das vezes em carros de bois e a empilha-las depois. Os fojos apenas existem no norte da Península Ibérica e são conhecidos 5 tipos. De paredes convergentes, de cabrita, de alçapão, simples e de “corral”.

Fojo de paredes convergentes
fojo de paredes convergentes

​Figura 349 – O Fojo de paredes convergentes.

O Fojo de paredes convergentes e formado por duas paredes que convergem para um círculo murado que contém um fosso dissimulado. É organizada uma batida, mobilizando às vezes toda a aldeia de forma a encaminhar o lobo para o Fojo acabando este por cair no fosso. As paredes ultrapassam às vezes os 300 metros de comprimento e os 2 metros de altura.

fojo de cabrita

​Figura 350 – O Fojo de cabrita.

O Fojo de cabrita é um recinto fechado com muro de pedra, em cujo interior é colocado um isco vivo. As paredes inclinadas para dentro permitem fácil entrada, mas a inclinação inversa no interior, bem como as pedras mais largas no topo da parede, impossibilitam a saída do lobo. As paredes têm altura de cerca de dois metros e um diâmetro aproximado de 30 metros.

fojo simples

 

​Figura 351 – O Fojo simples.

 

O Fojo simples consiste num buraco escavado no chão, localizado nas zonas de passagem habitual do lobo, podendo conter no seu interior um animal como forma de atrair o predador. No buraco dissimulado com vegetação, eram por vezes enterradas estacas afiadas para ferir ou matar o lobo.

O Fojo de alçapão consistia num buraco retangular de aproximadamente 5 metros de comprimento por 3 de largura. Uma estrutura de madeira para colocação do isco cobria metade do fosso e a presa era colocada de forma a fazer o lobo passar pela parte da estrutura que cederia sob o seu peso, ficando aprisionado.

fojo de alçapão

 

​Figura 352 – O Fojo de alçapão.

 

 

O Fojo de “corral” consiste numa cerca com um diâmetro aproximado de 5 metros e 2 de altura, feita de troncos unidos entre si com arame farpado, oculta com vegetação e deixando um ou dois espaços abertos que permitam a passagem do lobo. No interior é colocado um animal vivo para atrair o predador e nos espaços são montados laços que capturam o lobo quando tenta entrar.

fojo de corral

 

​Figura 353 – O Fojo de "Corral".

 

 

No início do século XX a generalização da utilização de venenos e o aperfeiçoamento das armas de fogo, fizeram esquecer os Fojos contribuindo as intempéries e a ação do homem para a sua degradação.

Os Fojos simples são os mais generalizados, sendo os restantes utilizados maioritariamente nas zonas mais montanhosas. Podemos por isso concluir que a ter existido um Fojo em Constantim, seria um Fojo simples. Os Fojos são testemunhos seculares da arquitetura rural, de elevado valor etnográfico, cultural e científico e retratam a intensa luta ao longo de séculos entre o homem e o lobo.

O Lobo é hoje uma espécie protegida (Lei 90/88 de 13 Agosto e regulamentada posteriormente pelo Decreto-Lei 139/90 de 27 de Abril), sendo proibido o abate bem como a destruição do seu habitat.

Em Constantim, como em muitas outras localidades nortenhas, a luta sem tréguas movida ao lobo, a expansão dos terrenos agrícolas, a redução da pastorícia, a abertura de novas vias rodoviárias e as alterações climáticas acabaram por expulsar os lobos que há mais de meio século, retiraram para zonas de caça mais favoráveis encontrando-se no entanto em vias de extinção.

Apesar de o Fojo já não existir em Constantim, fica portanto o nome de "Foijo", para lembrar que um dia o lobo teve por aqui passagem habitual.

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